Alguém muito recentemente cortara o mato, que na
época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de
Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios
de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma
pequena roça. Luandi sorriu. A mãe devia estar bastante
forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga
que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra
dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos
ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga
de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre,
quando estavam regressando da pesca, da caça ou de
algum lugar. O pai de Luandi, no dia em que queria agradar
à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar
de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia,
porém, que era uma língua que alguns negros falavam
ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre.
Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com
as palmas das mãos em um atabaque imaginário. Estava
de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando,
dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.
EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio . Rio de Janeiro: Pallas, 2018.
A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar”
como patrimônio linguístico que
✂️ a) representa a memória de uma língua africana extinta. ✂️ b) exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes. ✂️ c) preserva a ancestralidade africana por meio da
tradição oral. ✂️ d) resgata a musicalidade africana por meio de palavras
inteligíveis. ✂️ e) remonta à tristeza dos negros mais velhos com
saudade da África.