Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada
origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas
as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom
português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo
dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou talvez, vicedito:
indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito
para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de
palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando
o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por
se negar nominalmente a própria existência.
ROSA, G. Tutameia : terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 (fragmento).
Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa,
depreende-se a predominância de uma das funções da
linguagem, identificada como
✂️ a) metalinguística, pois o trecho tem como propósito
essencial usar a língua portuguesa para explicar
a própria língua, por isso a utilização de vários
sinônimos e definições. ✂️ b) referencial, pois o trecho tem como principal objetivo
discorrer sobre um fato que não diz respeito ao
escritor ou ao leitor, por isso o predomínio da terceira
pessoa. ✂️ c) fática, pois o trecho apresenta clara tentativa de
estabelecimento de conexão com o leitor, por isso
o emprego dos termos “sabe-se lá” e “tome-se
hipotrélico”. ✂️ d) poética, pois o trecho trata da criação de palavras
novas, necessária para textos em prosa, por isso o
emprego de “hipotrélico”. ✂️ e) expressiva, pois o trecho tem como meta mostrar a
subjetividade do autor, por isso o uso do advérbio de
dúvida “talvez”.