Quando Rubem Braga não tinha assunto, ele abria
a janela e encontrava um. Quando não encontrava,
dava no mesmo, ele abria a janela, olhava o mundo
e comunicava que não havia assunto. Fazia isso com
tanto engenho e arte que também dava no mesmo: a
crônica estava feita. Não tenho nem o engenho nem
a arte de Rubem, mas tenho a varanda aberta sobre
a Lagoa — posso não ver melhor, mas vejo mais. [...]
Nelson Rodrigues não tinha problemas. Quando não
havia assunto, ele inventava. Uma tarde, estacionei
ilegalmente o Sinca-Chambord na calçada do jornal.
Ele estava com o papel na máquina e provisoriamente
sem assunto. Inventou que eu descia de um reluzente
Rolls Royce com uma loura suspeita, mas equivalente
à suntuosidade do carro. Um guarda nos deteve, eu
tentei subornar a autoridade com dinheiro, o guarda não
aceitou o dinheiro, preferiu a loura. Eu fiquei sem a multa
e sem a mulher. Nelson não ficou sem assunto.
CONY, C. H. Folha de S. Paulo. 2 jan. 1998 (adaptado).
O autor lançou mão de recursos linguísticos que o
auxiliaram na retomada de informações dadas sem
repetir textualmente uma referência. Esses recursos
pertencem ao uso da língua e ganham sentido nas
práticas de linguagem. É o que acontece com os usos
do pronome "ele" destacados no texto. Com essa
estratégia, o autor conseguiu
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