Em 1921, Mário de Andrade, escrevendo a série de artigos
“Mestres do passado”, publicados no Jornal do Comércio (edição de São Paulo), observou: "Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos seguidos. Tais
são, tão salientes os artifícios e tão repetidos que muito bem
provam o esforço do poeta decaído da poesia e a sua parca
inspiração (...).”
(ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In: BRITO, M.S. História do modernismo brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 288-289, 1978.)
Relacione, ao poema a seguir, o trecho da crítica anterior, assinalando a alternativa que coincide com a ideia geral de Mário
sobre a obra de Bilac. As estrelas
Olavo Bilac
Desenrola-se a sombra no regaço
Da morna tarde, no esmaiado anil;
Dorme, no ofego do calor febril,
A natureza, mole de cansaço.
Vagarosas estrelas! passo a passo,
O aprisco desertando, às mil e às mil,
Vindes do ignoto seio do redil
Num compacto rebanho, e encheis o espaço...
E, enquanto, lentas, sobre a paz terrena,
Vos tresmalhais tremulamente a flux,
– Uma divina música serena
Desce rolando pela vossa luz:
Cuida-se ouvir, ovelhas de ouro: a avena
Do invisível pastor que vos conduz...
(BILAC, Olavo. Tarde . Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, p. 42-43, 1919.) Esmaiado: esmaecido, pálido
Aprisco: curral
Redil: curral para o gado ovino ou caprino; rebanho de ovelhas
Tresmalhar: Afastar-se, perder-se do rebanho
Flux: fluxo
Avena: flauta pastoril
✂️ a) O crítico lamenta o espaçamento da criação poética de Bilac, o que se expressa no poema pela imagem das estrelas
que se afastam umas das outras. ✂️ b) O crítico elogia os salientes artifícios da linguagem poética
de Tarde , o que se pode perceber, por exemplo, pela variedade de sinônimos para a palavra “curral”. ✂️ c) O crítico evoca, como resultado da pouca inspiração artística
do poeta, a sobrecarga de investimento formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo). ✂️ d) O crítico associa a poesia de Bilac ao estilo decadentista, o
que é reforçado pelas imagens de esgotamento, como se
vê nas palavras “morna”, “esmaiado”, “ofego”, “mole”,
“lentas”.