Fiquei sem respiração. Nunca, antes desses últimos dias, tinha pressentido o que queria
dizer “existir”. Era como os outros, como os que passeiam à beira-mar com suas roupas
de primavera. Dizia como eles: o mar é verde; aquele ponto branco lá no alto é uma
gaivota, mas eu não sentia que aquilo existisse, que a gaivota fosse uma “gaivota existente”; comumente a existência se esconde. Está presente, à nossa volta, em nós,
ela somos nós, não podemos dizer duas palavras sem mencioná-la, e afinal não a
tocamos. [...] Se me tivessem perguntado o que era a existência, teria respondido de
boa-fé que não era nada, apenas uma forma vazia que vinha se juntar às coisas
exteriormente, sem modificar em nada sua natureza. E depois foi isto: de repente, ali
estava, claro como o dia: a existência subitamente se revelara. Perdera seu aspecto
inofensivo de categoria abstrata: era a própria massa das coisas, aquela raiz estava
sovada em existência. Ou antes, a raiz, as grades do jardim, o banco, a relva rala do
gramado, tudo se desvanecera; a diversidade das coisas, sua individualidade, eram
apenas uma aparência, um verniz. Esse verniz se dissolvera, restavam massas
monstruosas e moles, em desordem - nuas, de uma nudez apavorante e obscena.
(SARTRE, 2007, p. 163)
SARTRE, J.-P. A náusea. In: MARCONDES, D. (Org.).
Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
Com base no trecho citado, ao experimentar a náusea, o filósofo compreende que a
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