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Questões de Concursos UERJ

Resolva questões de UERJ comentadas com gabarito, online ou em PDF, revisando rapidamente e fixando o conteúdo de forma prática.


41Q931972 | Geografia, UERJ Vestibular Segundo Exame UERJ, UERJ, UERJ, 2018

Texto associado.
                                      Memórias de um carbono
Pouco tempo atrás, o átomo de carbono foi liberado de sua prisão química. No processo de transformação
industrial do petróleo, ele foi incorporado à gasolina que era processada em uma refinaria. Não demorou muito e
ele estava participando de uma reação de queima no motor de um automóvel e rapidamente estava novamente
livre na atmosfera. A excessiva liberação desses átomos de carbono que ficaram aprisionados por milhões de anos
no subsolo é um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta atualmente.
ADILSON DE OLIVEIRA
Adaptado de cienciahoje.org.br.
                                      O futuro já está entre nós
O gestor hospitalar Edgar Escobar comprou um carro elétrico em 2016. Ele tem um dos 4 784 veículos elétricos
ou híbridos que circulam pelas ruas do Brasil hoje. São carros e ônibus que ajudam a preservar o meio ambiente.
E cerca de 300 deles são 100% elétricos. Ou seja, a emissão de gases poluentes é zero. Todo o funcionamento do
carro é sustentado pela bateria, que pode ser carregada numa tomada dentro de casa.
                                                                                                                                   Adaptado de cbn.globoradio.globo.com.
                                                                                                                                                                                     14/07/2017.
O desenvolvimento de veículos elétricos é uma das medidas para enfrentar o problema apontado acima, no
primeiro texto.
A eficácia ambiental dessa medida, considerando as tecnologias comercialmente viáveis a curto prazo no mundo,
depende principalmente do seguinte fator:
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42Q595206 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

Texto associado.
  Pietro Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como tantos
        italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de América. Pietro queria
        terra, sim. Mas o que o movia era um território de outra ordem. Ele queria salvar seu nome,
        encarnado na figura de meu bisavô, Antônio. Pietro fora obrigado a servir o exército como
5      soldado por anos demais (...). Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que
        não perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. Como desertava,
        meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto de Gênova.
        Embarcou como clandestino.
       Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo.
10   O funcionário do Império, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu.
        Tornando-o, no mundo novo, Brum – com “m”. Meu pai, Argemiro, filho de José, neto de
        Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a missão de resgatar essa história e documentá-la.
        No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos todos os
        documentos, organizados numa pasta. Mas entre nós existe essa diferença na letra. Antes de
15    ingressar com a documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial
        que substituiu um “n” por um “m”. Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar,
        e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se importado, porque era apenas o
        nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo.
        Cabia a mim levar essa empreitada adiante.
20    Há uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construímos – e
        não com a que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória assombra porque não a
        nomeamos, respira em nossos porões como monstros sem palavras. A memória, não. É uma
        escolha do que esquecer e do que lembrar – e uma oportunidade de ressignificar o passado
        para ganhar um futuro. Pela memória nos colocamos não só em movimento, mas nos tornamos
25    o próprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto.
        Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa
        perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.
        (...)
        Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele
        não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. Ele tinha de ser outro, assim como nós, que
30    resultamos dessa aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois
        até Pedro Brum.
ELIANE BRUM
Meus desacontecimentos: a história da minha vida co
Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (l. 26-27) 
Diante da conduta do funcionário do governo brasileiro, é possível inferir a seguinte reação por parte de Pietro Brun:
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43Q932943 | Química, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2019

Para a remoção de um esmalte, um laboratório precisa preparar 200 mL de uma solução aquosa de propanona na
concentração de 0,2 mol/L. Admita que a densidade da propanona pura é igual a 0,8 kg/L.
Nesse caso, o volume de propanona pura, em mililitros, necessário ao preparo da solução corresponde a:
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44Q595268 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

Texto associado.
Há alguns meses fui convidado a visitar o Museu da Ciência de La Coruña, na Galícia. Ao final da
visita, o curador1  anunciou que tinha uma surpresa para mim e me conduziu ao planetário2.  Um
planetário sempre é um lugar sugestivo, porque, quando se apagam as luzes, temos a impressão
de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas naquela noite algo especial me aguardava.
5 De repente a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo acalanto de Manuel de Falla.
Lentamente (embora um pouco mais depressa do que na realidade, já que a apresentação durou
ao todo quinze minutos) o céu sobre minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu que aparecera
sobre minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na noite de 5 para 6 de janeiro de 1932,
quando nasci. Quase hiper-realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida.
10 Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira noite. Provavelmente nem minha
mãe a viu, exausta como estava depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto,
ao sair para o terraço, um pouco agitado com o fato maravilhoso (pelo menos para ele) que
testemunhara e ajudara a produzir.
O planetário usava um artifício mecânico que se pode encontrar em muitos lugares. Outras
15 pessoas talvez tenham passado por uma experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar
se durante aqueles quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde o início dos
tempos que havia tido o privilégio de se encontrar com seu próprio começo. Eu estava tão feliz
que tive a sensação – quase o desejo – de que podia, deveria morrer naquele exato momento
e que qualquer outro momento teria sido inadequado. Teria morrido alegremente, pois vivera a
20 mais bela história que li em toda a minha vida.
Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas
telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. Era ficção
porque a história fora reinventada pelo curador; era História porque recontava o que acontecera
no cosmos num momento do passado; era vida real porque eu era real e não uma personagem
de romance.
UMBERTO ECO
Adaptado de Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. (l. 21-22) 
Na frase acima, o autor procura delimitar um sentido para a palavra história por meio dos trechos destacados. Esses trechos apresentam uma formulação do seguinte tipo:
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45Q932529 | Geografia, UERJ Vestibular Segundo Exame UERJ, UERJ, UERJ, 2018

Texto associado.
Brasil não cresce se não reduzir sua desigualdade
O Brasil não voltará a crescer de forma sustentável enquanto não reduzir sua desigualdade
e a extrema concentração da renda no topo da pirâmide social, diz o economista francês
Thomas Piketty. Autor do livro O capital no século XXI, no qual apontou um aumento da
concentração no topo da pirâmide social nos Estados Unidos e na Europa, Piketty agora se
dedica a um grupo de pesquisas que investiga o que ocorreu em países em desenvolvimento
como o Brasil, a China e a Índia.
                                                                                        Adaptado de folha.uol.com.br, 28/09/2017.
Para Thomas Piketty, a situação de desigualdade referida no texto dificulta o crescimento econômico nacional.
Tendo em vista a lógica do modo de produção capitalista, um motivo que explica essa dificuldade é:
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46Q932355 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
Lucy caiu da árvore
Conta a lenda que, na noite de 24 de novembro de 1974, as estrelas brilhavam na beira do rio
Awash, no interior da Etiópia. Um gravador K7 repetia a música dos Beatles “Lucy in the Sky with
Diamonds”. Inspirados, os paleontólogos decidiram que a fêmea AL 288-1, cujo esqueleto havia
sido escavado naquela tarde, seria apelidada carinhosamente de Lucy.
Lucy tinha 1,10 m e pesava 30 kg. Altura e peso de um chimpanzé. Mas não se iluda, Lucy não
pertence à linhagem que deu origem aos macacos modernos. Ela já andava ereta sobre os
membros inferiores. Lucy pertence à linhagem que deu origem ao animal que escreve esta crônica
e ao animal que a está lendo, eu e você.
Os ossos foram datados. Lucy morreu 3,2 milhões de anos atrás. Ela viveu 2 milhões de anos antes do
aparecimento dos primeiros animais do nosso gênero, o Homo habilis. A enormidade de 3 milhões
de anos separa Lucy dos mais antigos esqueletos de nossa espécie, o Homo sapiens, que surgiu no
planeta faz meros 200 mil anos. Lucy, da espécie Australopithecus afarensis, é uma representante
das muitas espécies que existiram na época em que a linhagem que deu origem aos homens
modernos se separou da que deu origem aos macacos modernos. Lucy já foi chamada de elo
perdido, o ponto de bifurcação que nos separou dos nossos parentes mais próximos.
Uma das principais dúvidas sobre a vida de Lucy é a seguinte: ela já era um animal terrestre, como
nós, ou ainda subia em árvores?
Muitos ossos de Lucy foram encontrados quebrados, seus fragmentos espalhados pelo chão. Até
agora, se acreditava que isso se devia ao processo de fossilização e às diversas forças às quais
esses ossos haviam sido submetidos. Mas os cientistas resolveram estudar em detalhes as fraturas.
As fraturas, principalmente no braço, são de compressão, aquela que ocorre quando caímos de
um local alto e apoiamos os membros para amortecer a queda. Nesse caso, a força é exercida
ao longo do eixo maior do osso, causando um tipo de fratura que é exatamente o encontrado
em Lucy. Usando raciocínios como esse, os cientistas foram capazes de explicar todas as fraturas
a partir da hipótese de que Lucy caiu do alto de uma árvore de pé, se inclinou para frente e
amortizou a queda com o braço.
Uma queda de 20 a 30 metros e Lucy atingiria o solo a 60 km/h, o suficiente para matar uma
pessoa e causar esse tipo de fratura. Como existiam árvores dessa altura onde Lucy vivia e muitos
chimpanzés sobem até 150 metros para comer, uma queda como essa é fácil de imaginar.
A conclusão é que Lucy morreu ao cair da árvore. E se caiu era porque estava lá em cima. E se
estava lá em cima era porque sabia subir. Enfim, sugere que Lucy habitava árvores.
Mas na minha mente ficou uma dúvida. Quando criança, eu subia em árvores. E era por não
sermos grandes escaladores de árvores que eu e meus amigos vivíamos caindo, alguns quebrando
braços e pernas. Será que Lucy morreu exatamente por tentar fazer algo que já não era natural
para sua espécie?
Fernando Reinach
adaptado de O Estado de S. Paulo, 24/09/2016.
Um exemplo de metalinguagem, que é o uso de uma linguagem para descrever a si mesma, encontra-se em:
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47Q595463 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO
O que acontece com o sentimento de identidade de uma pessoa que se depara, diante do
espelho, com um rosto que não é seu? Como é possível manter a convicção razoavelmente estável
que nos acompanha pela vida, a respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alteração radical
em nossa imagem? Perguntas como essas provocaram intenso debate a respeito da ética médica
5 depois do transplante de parte da face em uma mulher que teve o rosto desfigurado por seu
cachorro em Amiens, na França.
Nosso sentimento de permanência e unidade se estabelece diante do espelho, a despeito de
todas as mudanças que o corpo sofre ao longo da vida. A criança humana, em um determinado
estágio de maturação, identifica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um transplante
10 (ainda que parcial) que altera tanto os traços fenotípicos quanto as marcas da história de vida
inscritas na face destruiria para sempre o sentimento de identidade do transplantado? Talvez não.
Ocorre que o poder do espelho – esse de vidro e aço pendurado na parede – não é tão absoluto:
o espelho que importa, para o humano, é o olhar de um outro humano. A cultura contemporânea
do narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar continuamente o testemunho do espelho, não
15 considera que o espelho do humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante.
É o reconhecimento do outro que nos confirma que existimos e que somos (mais ou menos) os
mesmos ao longo da vida, na medida em que as pessoas próximas continuam a nos devolver nossa
“identidade”. O rosto é a sede do olhar que reconhece e que também busca reconhecimento. É
que o rosto não se reduz à dimensão da imagem: ele é a própria presentificação de um ser humano,
20 em sua singularidade irrecusável. Além disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto é a que faz
apelo ao outro. A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e, sobretudo, demanda amor.
A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. O personagem Robinson
Crusoé do livro Sexta-feira ou os limbos do Pacífico, de Michel Tournier, perde a noção de sua
identidade e enlouquece, na falta do olhar de um semelhante que lhe confirme que ele é um
25 ser humano. No início do romance, o náufrago solitário tenta fazer da natureza seu espelho. Faz
do estranho, familiar, trabalhando para “civilizar” a ilha e representando diante de si mesmo o
papel de senhor sem escravos, mestre sem discípulos. Mas depois de algum tempo o isolamento
degrada sua humanidade.
A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a recomposição de uma face humana, ainda que
30 não seja a “sua”, vai agora depender de um esforço de tolerância e generosidade por parte dos
que lhe são próximos. Parentes e amigos terão de superar o desconforto de olhar para ela e não
encontrar a mesma de antes. Diante de um rosto outro, deverão ainda assim confirmar que ela
continua sendo ela. E amar a mulher estranha a si mesma que renasceu daquela operação.
MARIA RITA KEHL
Adaptado de folha.uol.com.br, 11/12/2005.
*narcisismo ? amor do indivíduo por sua própria imagem
O conto constrói uma alegoria, ou seja, uma metáfora ampliada que o organiza. Esse aspecto alegórico é reforçado pelo modo de identificação dos personagens, o que se faz por meio de:
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48Q595134 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

Texto associado.
        O passado anda atrás de nós
        como os detetives os cobradores os ladrões
        o futuro anda na frente
        como as crianças os guias de montanha
5     os maratonistas melhores
        do que nós
        salvo engano o futuro não se imprime
        como o passado nas pedras nos móveis no rosto
        das pessoas que conhecemos
10    o passado ao contrário dos gatos
        não se limpa a si mesmo
        aos cães domesticados se ensina
        a andar sempre atrás do dono
        mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem
15    pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro
        este besouro este vulcão este despenhadeiro
        à frente de nós à frente deles
        corre o cão
 ANA MARTINS MARQUES
O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o futuro. Esse recurso consiste na construção de:
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49Q932405 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
Quem tem o direito de falar?
A política não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Na verdade, a política é
também uma questão de circulação de afetos, da maneira como eles irão criar vínculos sociais,
afetando os que fazem parte desses vínculos.
A maneira como somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver, sentir e
perceber. Definido o que vejo, sinto e percebo, definem-se o campo das minhas ações, a maneira
como julgarei, o que faz parte e o que está excluído do meu mundo.
Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação de uma
mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo. Nesse sentido, foi
muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram sites de notícias de seu
continente com posts e comentários. Uma quantidade impressionante deles reclamava daqueles
jornais que decidiram publicar a foto. Eles diziam basicamente a mesma coisa: “parem de nos
mostrar o que não queremos ver”.
Toda verdadeira luta política é baseada em uma mudança nos circuitos dominantes de afetos.
Prova disso foi o fato de tal foto produzir o que vários discursos até então não haviam conseguido:
a suspensão temporária da política criminosa de indiferença em relação à sorte dos refugiados.
De fato, sabemos que faz parte das dinâmicas do poder decidir qual sofrimento é visível e qual é
invisível. Mas, para tanto, devemos antes decidir sobre quem fala e quem não fala.
Há várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente calar quem não tem direito à voz.
Isso é o que nos lembram todos aqueles que se engajaram na luta por grupos sociais vulneráveis
e objetos de violência contínua (negros, homossexuais, mulheres, travestis, palestinos, entre
tantos outros).
Mas há ainda outra forma de silêncio. Ela consiste em limitar a fala. A princípio, isso pode parecer
um ato de dar voz aos excluídos e subalternos, fazendo com que negros falem sobre os problemas
dos negros, mulheres falem sobre os problemas das mulheres, e por aí vai. No entanto, essa
é apenas uma forma astuta de silêncio, e deveríamos estar mais atentos a tal estratégia de
silenciamento identitário. Ao final, ela quer nos levar a acreditar que negros devem apenas falar
dos problemas dos negros, que mulheres devem apenas falar dos problemas das mulheres.
Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, quando aceito limitar minha
fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos,
pois não conseguirei implicar quem não partilha minha identidade na narrativa do meu sofrimento.
Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que podem implicar qualquer um, ou seja,
que se dirigem a essa dimensão do “qualquer um” que faz parte de cada um de nós. É quando nos
colocamos na posição de qualquer um que temos mais força de desestabilização. O verdadeiro
medo do poder é que você se coloque na posição de qualquer um.
VLADIMIR SAFATLE
Adaptado de Folha de S. Paulo, 25/09/2015.
essa dimensão do “qualquer um” que faz parte de cada um de nós. (l. 32) 
No parágrafo final, o uso da expressão indefinida destaca a seguinte tese presente na argumentação do autor:
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50Q596546 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2019

Texto associado.
Violência e psiquiatria
O tipo de violência que aqui considerarei pouco tem a ver com pessoas que utilizam martelos para
golpear a cabeça de outras, nem se aproximará muito do que se supõe façam os doentes mentais.
Se se quer falar de violência em psiquiatria, a violência que brada, que se proclama em tão alta
voz que raramente é ouvida, é a sutil, tortuosa violência perpetrada pelos outros, pelos “sadios”,
5 contra os rotulados de “loucos”. Na medida em que a psiquiatria representa os interesses ou
pretensos interesses dos sadios, podemos descobrir que, de fato, a violência em psiquiatria é
sobretudo a violência da psiquiatria.
Quem são porém as pessoas sadias? Como se definem a si próprias? As definições de saúde mental
propostas pelos especialistas ou estabelecem a necessidade do conformismo a um conjunto de
10 normas sociais arbitrariamente pressupostas, ou são tão convenientemente gerais – como, por
exemplo, “a capacidade de tolerar conflitos” – que deixam de fazer sentido. Fica-se com a
lamentável reflexão de que os sadios serão, talvez, todos aqueles que não seriam admitidos na
enfermaria de observação psiquiátrica. Ou seja, eles se definem pela ausência de certa experiência.
Sabe-se, porém, que os nazistas asfixiaram com gás dezenas de milhares de doentes mentais,
15 assim como dezenas de milhares de outros tiveram seus cérebros mutilados ou danificados
por sucessivas séries de choques elétricos: suas personalidades foram deformadas, de modo
sistemático, pela institucionalização psiquiátrica. Como podem fatos tão concretos emergir na
base de uma ausência, de uma negatividade – a compulsiva não loucura dos sadios? De fato,
toda a área de definição de sanidade mental e loucura é tão confusa, e os que se arriscam
20 dentro dela são tão aterrorizados pela ideia do que possam encontrar, não só nos “outros”
como também em si mesmos, que se deve considerar seriamente a renúncia ao projeto.
DAVID COOPER
Adaptado de Psiquiatria e antipsiquiatria. São Paulo: Perspectiva, 1967.
A QUESTÃO REFERE-SE À OBRA “O ALIENISTA”, DE MACHADO DE ASSIS.
Além de se opor ao cientificismo dogmático do século XIX, “O alienista” também põe em xeque práticas de outros
grupos da sociedade da época.
A narração da revolta dos Canjicas e da postura de seu líder, o barbeiro Porfírio, tem como alvo o grupo dos:
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51Q595217 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

Texto associado.
        Pietro Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como tantos
        italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de América. Pietro queria
        terra, sim. Mas o que o movia era um território de outra ordem. Ele queria salvar seu nome,
        encarnado na figura de meu bisavô, Antônio. Pietro fora obrigado a servir o exército como
5      soldado por anos demais (...). Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai decidiu que
        não perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. Como desertava,
        meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto de Gênova.
        Embarcou como clandestino.
       Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo.
10   O funcionário do Império, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu.
        Tornando-o, no mundo novo, Brum – com “m”. Meu pai, Argemiro, filho de José, neto de
        Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a missão de resgatar essa história e documentá-la.
        No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos todos os
        documentos, organizados numa pasta. Mas entre nós existe essa diferença na letra. Antes de
15    ingressar com a documentação, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial
        que substituiu um “n” por um “m”. Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar,
        e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se importado, porque era apenas o
        nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo.
        Cabia a mim levar essa empreitada adiante.
20    Há uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construímos – e
        não com a que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória assombra porque não a
        nomeamos, respira em nossos porões como monstros sem palavras. A memória, não. É uma
        escolha do que esquecer e do que lembrar – e uma oportunidade de ressignificar o passado
        para ganhar um futuro. Pela memória nos colocamos não só em movimento, mas nos tornamos
25    o próprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto.
        Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa
        perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.
        (...)
        Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele
        não poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. Ele tinha de ser outro, assim como nós, que
30    resultamos dessa aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois
        até Pedro Brum.
ELIANE BRUM
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São Paulo: LeYa, 2014.
No texto, a autora narra fatos e expõe suas opiniões relacionados à vinda de sua família para o Brasil.
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52Q596888 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
O poder Criativo da Imperfeição

Já escrevi sobre como nossas teorias científicas sobre o mundo são aproximações de uma
realidade que podemos compreender apenas em parte. Nossos instrumentos de pesquisa, que
tanto ampliam nossa visão de mundo, têm necessariamente limites de precisão. Não há dúvida de
que Galileu, com seu telescópio, viu mais longe do que todos antes dele. Também não há dúvida
de que hoje vemos muito mais longe do que Galileu poderia ter sonhado em 1610. E certamente,
em cem anos, nossa visão cósmica terá sido ampliada de forma imprevisível.
No avanço do conhecimento científico, vemos um conceito que tem um papel essencial: simetria.
Já desde os tempos de Platão, há a noção de que existe uma linguagem secreta da natureza, uma
matemática por trás da ordem que observamos.
Platão – e, com ele, muitos matemáticos até hoje – acreditava que os conceitos matemáticos
existiam em uma espécie de dimensão paralela, acessível apenas através da razão. Nesse caso,
os teoremas da matemática (como o famoso teorema de Pitágoras) existem como verdades
absolutas, que a mente humana, ao menos as mais aptas, pode ocasionalmente descobrir. Para os
platônicos, a matemática é uma descoberta, e não uma invenção humana.
Ao menos no que diz respeito às forças que agem nas partículas fundamentais da matéria, a busca
por uma teoria final da natureza é a encarnação moderna do sonho platônico de um código secreto
da natureza. As teorias de unificação, como são chamadas, visam justamente a isso, formular todas
as forças como manifestações de uma única, com sua simetria abrangendo as demais.
Culturalmente, é difícil não traçar uma linha entre as fés monoteístas e a busca por uma unidade
da natureza nas ciências. Esse sonho, porém, é impossível de ser realizado.
Primeiro, porque nossas teorias são sempre temporárias, passíveis de ajustes e revisões futuras.
Não existe uma teoria que possamos dizer final, pois nossas explicações mudam de acordo com
o conhecimento acumulado que temos das coisas. Um século atrás, um elétron era algo muito
diferente do que é hoje. Em cem anos, será algo muito diferente outra vez. Não podemos saber
se as forças que conhecemos hoje são as únicas que existem.
Segundo, porque nossas teorias e as simetrias que detectamos nos padrões regulares da natureza
são em geral aproximações. Não existe uma perfeição no mundo, apenas em nossas mentes. De
fato, quando analisamos com calma as “unificações” da física, vemos que são aproximações que
funcionam apenas dentro de certas condições.
O que encontramos são assimetrias, imperfeições que surgem desde as descrições das
propriedades da matéria até as das moléculas que determinam a vida, as proteínas e os ácidos
nucleicos (RNA e DNA). Por trás da riqueza que vemos nas formas materiais, encontramos a força
criativa das imperfeições.
MARCELO GLEISER
Adaptado de Folha de São Paulo, 25/08/2013  
Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem o Monstro? 
Com base na leitura do conto, a visão retratada na pergunta desencadeia o seguinte sentimento:
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53Q595121 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

A caracterização das personagens centrais se faz, em grande medida, em relação com a composição do espaço onde circulam.
No segundo parágrafo (l. 6-14), observa-se essa relação na ênfase dada ao seguinte aspecto retratado no ambiente:
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54Q597025 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2019

Texto associado.
Física para poetas
O ensino da física sempre foi um grande desafio. Nos últimos anos, muitos esforços foram feitos
com o objetivo de ensiná-la desde as séries iniciais do ensino fundamental, no contexto do ensino
de ciências. Porém, como disciplina regular, a física aparece no ensino médio, quando se torna
“um terror” para muitos estudantes.
5 Várias pesquisas vêm tentando identificar quais são as principais dificuldades do ensino de física
e das ciências em geral. Em particular, a queixa que sempre se detecta é que os estudantes não
conseguem compreender a linguagem matemática na qual, muitas vezes, os conceitos físicos são
expressos. Outro ponto importante é que as questões que envolvem a física são apresentadas
fora de uma contextualização do cotidiano das pessoas, o que dificulta seu aprendizado. Por
10 fim, existe uma enorme carência de professores formados em física para ministrar as aulas da
disciplina.
As pessoas que vão para o ensino superior e que não são da área de ciências exatas praticamente
nunca mais têm contato com a física, da mesma maneira que os estudantes de física, engenharia
e química poucas vezes voltam a ter contato com a literatura, a história e a sociologia. É triste
15 notar que a especialização na formação dos indivíduos costuma deixá-los distantes de partes
importantes da nossa cultura, da qual as ciências físicas e as humanidades fazem parte.
Mas vamos pensar em soluções. Há alguns anos, ofereço um curso chamado “Física para poetas”.
A ideia não é original – ao contrário, é muito utilizada em diversos países e aqui mesmo no Brasil.
Seu objetivo é apresentar a física sem o uso da linguagem matemática e tentar mostrá-la próxima
20 ao cotidiano das pessoas. Procuro destacar a beleza dessa ciência, associando-a, por exemplo, à
poesia e à música.
Alguns dos temas que trabalho em “Física para poetas” são inspirados nos artigos que publico.
Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na qual apresento a evolução
dos modelos que temos do universo. Começando pelas visões místicas e mitológicas e chegando
25 até as modernas teorias cosmológicas, falo sobre a busca por responder a questões sobre a
origem do universo e, consequentemente, a nossa origem, para compreendermos o nosso lugar
no mundo e na história.
Na aula “Memórias de um carbono”, faço uma narrativa de um átomo de carbono contando
sua história, em primeira pessoa, desde seu nascimento, em uma distante estrela que morreu há
30 bilhões de anos, até o momento em que sai pelo nariz de uma pessoa respirando. Temas como
astronomia, biologia, evolução e química surgem ao longo dessa aula, bem como as músicas
“Átimo de pó” e “Estrela”, de Gilberto Gil, além da poesia “Psicologia de um vencido”, de Álvares
de Azevedo.
Em “O tempo em nossas vidas”, apresento esse fascinante conceito que, na verdade, vai muito
35 além da física: está presente em áreas como a filosofia, a biologia e a psicologia. Algumas músicas
de Chico Buarque e Caetano Veloso, além de poesias de Vinicius de Moraes e Carlos Drummond
de Andrade, ajudaram nessa abordagem. Não faltou também “Tempo Rei”, de Gil.
A arte é uma forma importante do conhecimento humano. Se músicas e poesias inspiram as
mentes e os corações, podemos mostrar que a ciência, em particular a física, também é algo
40 inspirador e belo, capaz de criar certa poesia e encantar não somente aos físicos, mas a todos os
poetas da natureza.
ADILSON DE OLIVEIRA
Adaptado de cienciahoje.org.br, 08/08/2016.
Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na qual apresento a evolução
dos modelos que temos do universo. (?. 23-24)
 
No trecho, a forma verbal sublinhada expressa uma ação que se caracteriza como:
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55Q932728 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
Quem tem o direito de falar?
A política não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Na verdade, a política é
também uma questão de circulação de afetos, da maneira como eles irão criar vínculos sociais,
afetando os que fazem parte desses vínculos.
A maneira como somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver, sentir e
perceber. Definido o que vejo, sinto e percebo, definem-se o campo das minhas ações, a maneira
como julgarei, o que faz parte e o que está excluído do meu mundo.
Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação de uma
mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo. Nesse sentido, foi
muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram sites de notícias de seu
continente com posts e comentários. Uma quantidade impressionante deles reclamava daqueles
jornais que decidiram publicar a foto. Eles diziam basicamente a mesma coisa: “parem de nos
mostrar o que não queremos ver”.
Toda verdadeira luta política é baseada em uma mudança nos circuitos dominantes de afetos.
Prova disso foi o fato de tal foto produzir o que vários discursos até então não haviam conseguido:
a suspensão temporária da política criminosa de indiferença em relação à sorte dos refugiados.
De fato, sabemos que faz parte das dinâmicas do poder decidir qual sofrimento é visível e qual é
invisível. Mas, para tanto, devemos antes decidir sobre quem fala e quem não fala.
Há várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente calar quem não tem direito à voz.
Isso é o que nos lembram todos aqueles que se engajaram na luta por grupos sociais vulneráveis
e objetos de violência contínua (negros, homossexuais, mulheres, travestis, palestinos, entre
tantos outros).
Mas há ainda outra forma de silêncio. Ela consiste em limitar a fala. A princípio, isso pode parecer
um ato de dar voz aos excluídos e subalternos, fazendo com que negros falem sobre os problemas
dos negros, mulheres falem sobre os problemas das mulheres, e por aí vai. No entanto, essa
é apenas uma forma astuta de silêncio, e deveríamos estar mais atentos a tal estratégia de
silenciamento identitário. Ao final, ela quer nos levar a acreditar que negros devem apenas falar
dos problemas dos negros, que mulheres devem apenas falar dos problemas das mulheres.
Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, quando aceito limitar minha
fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos,
pois não conseguirei implicar quem não partilha minha identidade na narrativa do meu sofrimento.
Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que podem implicar qualquer um, ou seja,
que se dirigem a essa dimensão do “qualquer um” que faz parte de cada um de nós. É quando nos
colocamos na posição de qualquer um que temos mais força de desestabilização. O verdadeiro
medo do poder é que você se coloque na posição de qualquer um.
VLADIMIR SAFATLE
Adaptado de Folha de S. Paulo, 25/09/2015.
A tragédia com o menino sírio no Mar Mediterrâneo foi divulgada pela imprensa, assim como as reações de leitores sobre a notícia.
De acordo com o texto, as reações contrárias à divulgação da foto do menino sírio representam uma postura de: 
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56Q596135 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2019

Texto associado.
Soneto do Corifeu*
São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
3 Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
6 Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
9 Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
12 Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.
* Corifeu: personagem sempre presente no antigo teatro grego. 
No soneto, é possível reconhecer a configuração de um espaço caracterizado pelo seguinte aspecto:
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57Q595108 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas.  (l. 8-9)
Nessa frase, um recurso de linguagem é utilizado para reforçar o incômodo das personagens. Esse recurso é denominado:
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58Q596911 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2017

Texto associado.
COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO
O que acontece com o sentimento de identidade de uma pessoa que se depara, diante do
espelho, com um rosto que não é seu? Como é possível manter a convicção razoavelmente estável
que nos acompanha pela vida, a respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alteração radical
em nossa imagem? Perguntas como essas provocaram intenso debate a respeito da ética médica
5 depois do transplante de parte da face em uma mulher que teve o rosto desfigurado por seu
cachorro em Amiens, na França.
Nosso sentimento de permanência e unidade se estabelece diante do espelho, a despeito de
todas as mudanças que o corpo sofre ao longo da vida. A criança humana, em um determinado
estágio de maturação, identifica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um transplante
10 (ainda que parcial) que altera tanto os traços fenotípicos quanto as marcas da história de vida
inscritas na face destruiria para sempre o sentimento de identidade do transplantado? Talvez não.
Ocorre que o poder do espelho – esse de vidro e aço pendurado na parede – não é tão absoluto:
o espelho que importa, para o humano, é o olhar de um outro humano. A cultura contemporânea
do narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar continuamente o testemunho do espelho, não
15 considera que o espelho do humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante.
É o reconhecimento do outro que nos confirma que existimos e que somos (mais ou menos) os
mesmos ao longo da vida, na medida em que as pessoas próximas continuam a nos devolver nossa
“identidade”. O rosto é a sede do olhar que reconhece e que também busca reconhecimento. É
que o rosto não se reduz à dimensão da imagem: ele é a própria presentificação de um ser humano,
20 em sua singularidade irrecusável. Além disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto é a que faz
apelo ao outro. A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e, sobretudo, demanda amor.
A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. O personagem Robinson
Crusoé do livro Sexta-feira ou os limbos do Pacífico, de Michel Tournier, perde a noção de sua
identidade e enlouquece, na falta do olhar de um semelhante que lhe confirme que ele é um
25 ser humano. No início do romance, o náufrago solitário tenta fazer da natureza seu espelho. Faz
do estranho, familiar, trabalhando para “civilizar” a ilha e representando diante de si mesmo o
papel de senhor sem escravos, mestre sem discípulos. Mas depois de algum tempo o isolamento
degrada sua humanidade.
A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a recomposição de uma face humana, ainda que
30 não seja a “sua”, vai agora depender de um esforço de tolerância e generosidade por parte dos
que lhe são próximos. Parentes e amigos terão de superar o desconforto de olhar para ela e não
encontrar a mesma de antes. Diante de um rosto outro, deverão ainda assim confirmar que ela
continua sendo ela. E amar a mulher estranha a si mesma que renasceu daquela operação.
MARIA RITA KEHL
Adaptado de folha.uol.com.br, 11/12/2005.
*narcisismo ? amor do indivíduo por sua própria imagem
A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. (l. 22) No penúltimo parágrafo, a história do personagem citado pela autora reforça a seguinte tese central do texto: 
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59Q595222 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ

Precisamos de modelos para entender o universo (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso), (l. 17-18)
Nesse trecho, o conteúdo entre parênteses propõe uma reformulação da palavra universo, em função da argumentação feita pelo autor.
Essa reformulação explora o seguinte recurso:
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60Q595746 | Português, Interpretação de Textos, Vestibular UERJ, UERJ, UERJ, 2019

Texto associado.
Soneto da hora final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
3 Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.
Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
6 E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.
Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
9 E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte.
E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
12 Nós entraremos nos jardins da morte.
No poema, há diversas referências metafóricas à morte, como exemplifica o seguinte verso:
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