As questões 01 a 03 referem-se ao texto abaixo.
A clonagem tem sido cercada pelo deslumbramento dirigido aos grandes feitos da ciência. No entanto, de modo ambivalente, vem também carregada de preocupações e temores. É possível estudar as peculiaridades desse processo ? que desperta tanta polêmica ? a partir dos lugares comuns recorrentes nas representações sobre o mesmo. O escândalo moral diante da clonagem decorre do núcleo ideológico da cultura ocidental. É importante ressaltar que esse processo jamais despertou controvérsia entre o grande público enquanto era realizado em animais bem diferentes do ser humano, como anfíbios. O advento de Dolly mudou a situação. Para os geneticistas, a clonagem de um mamífero totalmente formado significou apenas a possibilidade de reprogramar o DNA maduro para que funcionasse como DNA embrionário.
Para os leigos, porém, Dolly representou a ameaça de utilização dessa técnica de clonagem de um mamífero adulto para ?copiar? um ser humano. Os debates sobre o tema não condenam o avanço científico ? este não é considerado bom nem mau em si mesmo. O imperativo da ciência de aliar progresso e responsabilidade, porém, vem acompanhado da percepção de que formar um clone humano é algo inevitável, porque a ciência, obtidos os meios, não se furtaria à sua aplicação, mesmo que danosa.
Nesse contexto, surgem as acusações contra Antinori e Zavos: tais médicos seriam pseudocientistas, que planejariam criar monstros, como o doutor Frankenstein do livro de Mary Shelley. Isso porque a prática da clonagem humana sugere pesadelos totalitários, como a reencenação do nazismo e das experiências de Josef Mengele (representadas no filme Os meninos do Brasil pela criação de um exército de cópias de Adolf Hitler) ou a concretização do ?admirável mundo novo? do romance de Aldous Huxley, com a produção de seres humanos não reconhecidos como tais ? idéia também presente no filme Blade Runner, o caçador de andróides. Reagindo às críticas, Antinori pretende colocar-se no papel de Galileu Galilei, dizendo ser, como este, um cientista perseguido por interesses obscurantistas.
(Ciência Hoje 176, out. 2001)