Pode-se depreender dos fragmentos abaixo várias
questões sociais que foram e são levadas ao conhecimento
público através da literatura. Leia e marque a alternativa
correta de acordo com os comentários.
Texto 1
“Já vê sobrinho que não é por mim que lhe recusei Ana
Rosa, sua prima, mas é por tudo! A família de minha
mulher sempre foi escrupulosa a esse respeito, e como ela
é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma
asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor,
porém, não imagina o que é por cá a prevenção contra os
mulatos!...Nunca me perdoariam um tal casamento; além
do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que
fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de
lei, português ou descendente direto de portugueses!...O
senhor é um moço muito digno, muito merecedor de
consideração, mas...foi forro à pia batismal, e aqui
ninguém o ignora.”
O Mulato – Aluísio de Azevedo;
Texto 2
“Aurélia passava agora as noites solitárias. Raras vezes
aparecia Fernando, que arranjava uma desculpa para
justificar sua ausência. A menina...não contestava esses
fúteis inventos. [...]
Pensava que ela não tinha nenhum direito a ser amada por
Seixas; pois a afeição que lhe tivesse, muita ou pouca, era
graça que dele recebia. Quando se lembrava que esse
amor a poupara à degradação de um casamento de
conveniência, nome com que se decora o mercado
matrimonial, tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu
Deus e redentor. Parecerá estranha essa paixão veemente,
rica de heroica dedicação, que assiste calma, quase
impassível, ao declínio do afeto com que lhe retribuía o
homem amado, e se deixa abandonar, sem proferir um
queixume, nem fazer um esforço para reter a ventura que
foge.
Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja
investigação nos abstemos; porque o coração, e ainda mais
o de uma mulher que é toda ela, representava o caos do
mundo moral.
Ninguém sabe que maravilhas ou que monstros vão surgir
desses limbos. Suspeito eu, porém, que a explicação dessa
singularidade já ficou assinalada. Aurélia amava mais seu
amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher;
preferia o ideal ao homem.
Senhora, de José de Alencar;
Texto 3
“-Esta obrigação de casar as mulheres é o diabo!...Se não
tomam estado, ficam jururus e fanadinhas...; se casam
podem cair nas mãos de algum marido malvado...E depois,
as histórias!...Ih, meu Deus, mulheres numa casa, é coisa
de meter medo... São redomas de vidro que tudo pode
quebrar...Enfim, minha filha, enquanto solteira, honrou o
nome de meus pais...O Manecão que se aguente, quando a
tiver por sua...Com gente de saia não há que fiar... Cruz!
Botam famílias inteira a perder; enquanto o demo esfrega
o olho.
Esta opinião injuriosa sobre as mulheres é, em geral,
corrente nos sertões e traz como consequência imediata e
prática, além da rigorosa clausura em que são mantidas,
não só o casamento convencionado entre parentes muito
chegados para filhos de menor idade, mas sobretudo os
numerosos crimes cometidos, mal se suspeite
possibilidade de qualquer intriga amorosa entre pessoa da
família e algum estranho.”
Inocência, de Visconde de Taunay;
Texto 4
“Esse bando que vive da rapina se compõe, pelo que se
sabe, de um número superior a 100 crianças das mais
diversas idades, indo desde os 8 aos 16 anos. Crianças que,
naturalmente devido ao desprezo dado à sua educação por
pais pouco servidos de sentimentos cristãos, se
entregaram no verdor dos anos a uma vida criminosa. São
chamados de “Capitães da Areia” porque o cais é o seu
quartel-general. E têm por comandante uma mascote dos
seus 14 anos, que é o mais terrível de todos, não só ladrão,
como já autor de um crime de ferimentos graves,
praticado na tarde de ontem. Infelizmente a Identidade
deste chefe é desconhecida.
O que se faz necessário é unia urgente providência da
polícia e do juizado de menores no sentido da extinção
desse bando e para que recolham esses precoces
criminosos, que já não deixam a cidade dormir em paz o
seu sono tão merecido, aos Institutos de reforma de
crianças ou às prisões. Passemos agora a relatar o assalto
de ontem, do qual foi vítima um honrado comerciante da
nossa praça, que teve sua residência furtada em mais de
um conto de réis e um seu empregado ferido pelo
desalmado chefe dessa malta de jovens bandidos.
[...]
Carta do Padre Jose Pedro à Redação do jornal da Tarde
Sr. Redator do Jornal da Tarde.
Saudações em Cristo.
Tendo lido, no vosso conceituado jornal, a carta de Maria
Ricardina que apelava para mim como pessoa que podia
esclarecer o que é a vida das crianças recolhidas ao
reformatório de menores, sou obrigado a sair da
obscuridade em que vivo para vir vos dizer que
infelizmente Maria Ricardina tem razão. As crianças no
aludido reformatório são tratadas como feras, essa é a
verdade. Esqueceram a lição do suave Mestre, sr. Redator,
e em vez de conquistarem as crianças com bons tratos,
fazem-nas mais revoltadas ainda com espancamentos
seguidos e castigos físicos verdadeiramente desumanos.
Eu tenho ido lá levar às crianças o consolo da religião e as
encontro pouco dispostas a aceitá-lo devido naturalmente
ao ódio que estão acumulando naqueles jovens corações
tão dignos de piedade. O que tenho visto, sr. Redator,
daria um volume.
Muito grato pela atenção.
Servo em Cristo,
Padre José Pedro
(Carta publicada na terceira página do Jornal da Tarde, sob o título Será
Verdade? e sem comentários.) Capitães de Areia, Jorge Amado.
- ✂️
- ✂️
- ✂️
- ✂️
- ✂️