Espalhou-se com força na corrente cultural do nosso
tempo uma febre por regras que, teoricamente, podem garantir
sucesso no enfrentamento das mais diversas situações. A
evidência mais estridente dessa febre são os livros de autoajuda,
um ramo de negócios que no último ano, no mundo,
arrecadou 8,5 bilhões de dólares. A essa enxurrada de regras
compiladas em livros somam-se outras tantas transmitidas em
programas de TV e em palestras. Estas se tornaram rotina nas
empresas como forma de motivar funcionários e lhes inculcar
regras de convivência, quando não de sobrevivência,
corporativa.
A busca incessante por regras resulta da necessidade de
organizar a vida num mundo cada vez mais complexo em todos
os aspectos. Os desafios no convívio social, familiar e
profissional aumentaram em proporção geométrica. No trabalho,
os funcionários de perfil tradicional, especializados em sua
função, deram lugar à exigência de que todos na empresa
tenham habilidades múltiplas.Além do mais, a pressão da
sociedade para obter sucesso na vida profissional a todo custo
é tremenda. Paralelamente a isso, o volume de informações que
circulam pelos meios de comunicação e pela internet é uma
algaravia. Todas essas mudanças causam perplexidade e,
sobretudo, fazem com que as relações humanas sejam mais
complicadas e conturbadas. Daí a necessidade de regras que
tornem menos dolorosa, ou mais prazerosa, a adaptação ao
admirável mundo novo. Um mundo, enfim, que exige manual de
instruções. "A globalização e a crise de valores provocada pela
rápida mudança nos costumes no século XX criaram um vácuo
de paradigmas na sociedade. Por isso as pessoas buscam
novas regras em que se apoiar", diz Roberto Romano, professor
de Ética da Universidade Estadual de Campinas.
(Adaptado de Okky de Souza e Vanessa Vieira. Veja, 9 de
janeiro de 2008, p.55)