TEXTO 1
Era uma vez uma princesa muito boazinha e bem-comportada. Boazinha até demais, sabe? Obedecia a tudo. Concordava com todos. Uma verdadeira maria vai com as outras.
[...]
Ainda bem que isso não durou muito, porque senão a gente não ia ter história. Ou só ia ter uma história muito chata, sem graça nenhuma.
Mas a sorte é que um dia ela disse:
— Desculpe, mas acho que não.
Todo mundo se espantou muito.
A mãe, que também era boazinha demais, quase desmaiou de susto.
O pai dela, que era todo metido a mandachuva, ficou furioso. Ele era do tipo que achava que príncipe serve para andar a cavalo, enfrentar gigantes e matar dragões, mas que princesa só serve para ficar aprendendo a ser linda e boazinha, enquanto seu príncipe não vem. Então resolveu botar a princesinha de castigo.
— Vai ficar trancada na torre! Só sai de lá quando voltar a ser boazinha.
MACHADO, A. M. A princesa que escolhia.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
TEXTO 2
— Quer ajuda, Tetê? — ofereceu Valentina, toda dissimulada.
— Não, obrigada.
— Eu tenho uma camiseta que trago para colocar depois da aula de Educação Física. Até te emprestaria, mas certamente não cabe em você. Sou P e você deve ser GG – ela fez questão de falar para jogar na minha cara. — Na maioria das lojas eu sou M... — disse, tímida, triste, com raiva, com tudo de ruim corroendo meu peito ao mesmo tempo.
Desgraçada. Será que ia começar tudo de novo nessa escola? Será que meu pesadelo ia ter início novamente?
É... Estava tudo indo bem demais para ser verdade mesmo. [...]
“Aprendi também que a nossa história fortalece a gente. Tudo muda o tempo todo, já cantou o Lulu. E muda quando menos esperamos. Um dia, quando a menina que mora em mim, que se sentiu por muito tempo excluída, tiver coragem de mostrar em palavras o que passou e se isso ajudar alguém, nem que seja só uma pessoa, já vai ter valido a pena, como diz meu maravilhoso namorado, Dudu.”
REBOUÇAS, T. Confissões de uma garota excluída, mal-amada
e (um pouco) dramática. São Paulo: Arqueiro, 2016.