Questões de Concursos Polícia Militar MG

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161Q215327 | Português, Interpretação de Textos, Médico urologista, Polícia Militar MG, CRSP

Texto associado.

Uma Galinha

Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da

manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera–se num canto da cozinha. Não olhava para

ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua

intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se

adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e,

em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou —

o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de

onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno

deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e

consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando–se da

dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu

radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos

cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com

urgência outro rumo. A perseguição tornou–se mais intensa. De telhado a telhado foi

percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem

pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem

nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por

mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às

vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava

outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia

tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia

nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se

poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo

crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo

uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou–a.

Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa

através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta,

sacudiu–se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu.

De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse

prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma

velha mãe habituada. Sentou–se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e

desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava

as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina

estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar–se do

acontecimento, despregou–se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso

bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.

Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste,

não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O

pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento

qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu–se

com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família.

A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para

a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a

correr naquele estado!" A galinha tornara–se a rainha da casa. Todos, menos ela, o

sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas

capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê–la esquecido, enchia–se

de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o

corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena

cabeça a traísse: mexendo–se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já

mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se

recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos

enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar,

ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a

expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à

luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada

no começo dos séculos.

Até que um dia mataram–na, comeram–na e passaram–se anos.

Texto extraído do livro "Laços de Família", Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo

Moriconi, figura na publicação "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século".

Marque a alternativa CORRETA com relação ao que propiciou o desfecho da história da galinha:

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162Q4933 | Redação Oficial, Assistente Administrativo, Polícia Militar MG, FCC

Entende-se por minuta
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163Q16989 | Direito Penal, Oficial da Polícia Militar, Polícia Militar MG, CRSP

Marque a alternativa CORRETA que apresenta um dos EFEITOS DA CONDENAÇÃO que é automático, não necessitando ser motivadamente declarado na sentença:
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164Q16964 | Português, Interpretação de Textos, Auxiliar de Farmácia, Polícia Militar MG, CRSP

Texto associado.
A mulher do vizinho 
Fernando Sabino

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

- O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

-Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

- Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

- Da ativa, minha senhora?
E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
- Da ativa, Motinha! Sai dessa...

 
Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", 
Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872.
Com relação ao modo de agir do delegado no trecho “Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto." é CORRETO afirmar:
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165Q16979 | Direito Constitucional, Oficial da Polícia Militar, Polícia Militar MG, CRSP

Sobre o Estado de Defesa, marque a alternativa CORRETA:
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166Q62048 | Direito Penal, Aspirante da Polícia Militar, Polícia Militar MG, 2019

Marque a alternativa CORRETA em relação às qualificadoras do crime de homicídio (Art. 121) previstas no Código Penal:
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167Q16993 | Direito Processual Penal Militar, Oficial da Polícia Militar, Polícia Militar MG, CRSP

Em conformidade com as disposições do Código de Processo Penal Militar (CPPM), marque a alternativa CORRETA:
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168Q17031 | Música, Soldado da Polícia Militar, Polícia Militar MG, CRSP

Marque a alternativa CORRETA.
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169Q62022 | Direito Constitucional, Soldado da Polícia Militar, Polícia Militar MG, 2018

A CRFB/88 estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Nestes termos, assinale a alternativa CORRETA.
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170Q16955 | Farmácia, Auxiliar de Farmácia, Polícia Militar MG, CRSP

A Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS) nº 344, de 12/05/98, foi publicada para aprovar o regulamento técnico sobre os medicamentos sujeitos a controle especial. Considerando o seu conteúdo e a importância do correto e efetivo controle dessa categoria de medicamentos, marque a alternativa CORRETA:
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171Q16961 | Português, Interpretação de Textos, Auxiliar de Farmácia, Polícia Militar MG, CRSP

Texto associado.
A mulher do vizinho 
Fernando Sabino

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

- O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

-Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

- Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

- Da ativa, minha senhora?
E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
- Da ativa, Motinha! Sai dessa...

 
Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", 
Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872.
Considerando o destaque dado às autoridades do Exército Brasileiro no texto, é CORRETO afirmar que a narrativa apresenta elementos pertencentes ao seguinte período histórico do Brasil.
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172Q16951 | Farmácia, Auxiliar de Farmácia, Polícia Militar MG, CRSP

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nº 67, de 08/10/07, foi publicada para regulamentar as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias. Considerando o conteúdo dessa Resolução e a importância da manipulação nos serviços de saúde, marque a alternativa CORRETA:
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173Q62030 | Direito Penal Militar, Soldado da Polícia Militar, Polícia Militar MG, 2018

Para os efeitos da aplicação da lei penal militar, é CORRETO afirmar:
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174Q214703 | Português, Médico urologista, Polícia Militar MG, CRSP

Marque a alternativa CORRETA que se relaciona ao emprego adequado da estrutura contendo o verbo bater com o sentido apresentado entre parênteses:

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175Q4922 | Informática, Assistente Administrativo, Polícia Militar MG, FCC

Maria trabalha na secretaria da escola ABCD. Foi incumbida pelo diretor de criar o inventário do patrimônio da escola. Para isso, deverá relacionar em uma planilha todos os bens que compõem o patrimônio escolar, como móveis, veículos e equipamentos. Nessa planilha haverá cálculos e a representação de valores na forma gráfica. Os softwares adequados para Maria realizar essa tarefa são
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176Q17042 | Direito Penal, Oficial da Polícia Militar, Polícia Militar MG, CRSP

Marque a alternativa CORRETA. Para que se possa concluir pelo concurso de pessoas, será preciso verificar a presença dos seguintes requisitos:
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177Q62021 | Direito Constitucional, Soldado da Polícia Militar, Polícia Militar MG, 2018

Sobre os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88, assinale a alternativa CORRETA.
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178Q806405 | Legislação Federal, Lei n 11343 2006 Lei de Drogas, Oficial, Polícia Militar MG, FCC

De acordo com a Lei n. 11.343/06, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas.

 II – internação em estabelecimento destinado à reabilitação social do usuário e do dependente de drogas.

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

IV – prestação de serviços à comunidade.

Estão CORRETAS as assertivas:

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179Q704021 | Direito Constitucional, Teoria Geral do Direito Constitucional, Tenente Clínica Médica, Polícia Militar MG, PM MG, 2019

Em todas as alternativas constam características utilizadas para caracterizar os Direitos Fundamentais. Marque a alternativa que contém uma ou mais características que NÃO caracterizam os Direitos Fundamentais
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180Q16962 | Português, Interpretação de Textos, Auxiliar de Farmácia, Polícia Militar MG, CRSP

Texto associado.
A mulher do vizinho 
Fernando Sabino

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

- O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

-Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

- Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

- Da ativa, minha senhora?
E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
- Da ativa, Motinha! Sai dessa...

 
Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", 
Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872.
Conforme se vê no primeiro parágrafo do texto, o autor optou em iniciar a narrativa com um verbo na primeira pessoa do plural e depois pela colocação de verbos entre parênteses. Sobre o uso desse tipo de estrutura, é CORRETO afirmar que:
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