“Mandei que Sexta-Feira apanhasse todos os crânios, ossos,
restos de carne e o que mais fosse, juntasse tudo numa grande
pilha e acendesse uma fogueira para reduzir tudo a cinzas;
percebi nele grande vontade de comer daquela carne, nele
persistia sua natureza canibal; demonstrei porém tanto asco pela
simples referência à ideia ou por seu eventual interesse que ele
não se atreveu a manifestá-lo; porque arranjei um jeito de fazê-lo
entender, além do mais, que o mataria se ele cedesse a seus
impulsos.”
DEFOE, Daniel. Robinson Crusoe . SP: Ubu Editora, 2021.
Trad. Leonardo Fróes Esse excerto de texto tão clássico como popular, escrito no século
XVII, poderia ensejar uma representação dramatizada
(enriquecida pela pesquisa em outras fontes) das relações entre
europeus em expansão e povos americanos, africanos, orientais
que foram acessados pelo ímpeto mercantilista dos séculos XVI e
seguintes e, mais tarde, pela avidez imperialista das sociedades
cuja produção já exigia abertura de novos mercados.
Um professor, ao solicitar uma representação dramatizada desse
excerto, pretende que seus estudantes reflitam e percebam que
o que nele se destaca é a
a) visão escravocrata desde sempre presente nos europeus.
b) inclinação do “selvagem” à submissão do estrangeiro.
c) desconfiança do colonizador diante da crueza do nativo.
d) disposição missionária do europeu em “civilizar o primitivo”.
e) justificativa de estabelecer relações de paridade entre
estranhos.