Texto para a questão.
“Na linguagem filosófica, o termo fundamento designa o que serve de base ao ser, ao conhecer, ou ao decidir. Fundamento é a causa ou razão de algo (ratioessendi, ratio cognoscendi, ratio decidendi). Justamente em se tratando da ratio decidendi, em matéria ética, é preciso saber distinguir entre a razão ou razões pelas quais uma norma de comportamento social é de fato obedecida – o costume, o temor da sanção, o desejo de agradar aos poderosos – e a razão última pela qual ela deve ser obedecida.
No sistema filosófico kantiano, uma razão justificativa para a lei moral é semelhante à causalidade no campo da natureza. E esse fundamento último da moralidade, segundo Kant, só pode ser a liberdade.
Ora, em matéria ética, o fundamento é um critério ou modelo de vida. Na língua grega, de onde nos veio o vocábulo, critério é um substantivo ligado ao verbo krinô, empregado em três acepções principais: 1ª) julgar, decidir, condenar; 2ª) estimar, crer; e 3ª) separar, escolher, comparar. Em latim, usava-se o verbo cerno, de onde proveio o nosso discernir. Ressalte-se, desde logo, que não pode servir de critério para o juízo do bem e do mal a opinião deste ou daquele indivíduo. Em matéria ética, o critério ou modelo devida deve valer, no essencial, para todos os homens e todas as civilizações. Frise-se: no essencial, pois há valores secundários que variam enormemente, entre as diferentes culturas e civilizações. É preciso não confundir, por isso, desigualdades com diferenças: as primeiras representam a negação da dignidade intrínseca de todos os seres humanos, sem exceção alguma, ao passo que as diferenças fundadas na realidade biológica ou na capacidade de criação cultural constituem valores a serem sempre respeitados, sob pena, ainda aí, de negação da dignidade humana”.
Fabio Konder Comparato. Ética, p. 437-439 (adaptado)