Leia o texto abaixo, publicado em junho de 2024 no veículo
jornalístico gaúcho Matinal.
“Até a próxima
por Carlos Alberto Kolecza
Na primeira vez foi a iniciativa dos filhos, com ares de ultimato.
Não me deixariam engaiolado, o que certamente aconteceria,
sem luz, sem água, comida e internet. A síndica me ajudou a
compor a mochila de emergência. Um filho agiu confiado no
poder de seu muque. O outro, com a mulher, arrebanhou um
time de socorristas voluntários e um bote. Ofereceram-se ao
caudal sujo que ocupou a rua Augusto Melecchi, no bairro
Menino Deus, no segundo dia da primeira enchente.
Estava se formando o coquetel bacteriológico do vômito do rio-lago, resultado inevitável das pestilências obrigado a engolir da
manhã à noite. Na horizontal, abraçado aos socorristas, fui
depositado no bote sem ter molhado um centímetro da roupa,
tinha à minha espera, na praça Estado de Israel, uma médica
mineira voluntária, atenta ao protocolo clínico básico.
Estava na primeira etapa da maratona de ansiedade, na verdade
medo, desatada por duas enchentes descomunais seguidas. Algo
inesperado, para quem tinha um ano na grande enchente de
1941. A esta altura do campeonato, não esperava ver o repeteco.
Currículo desprezível diante do infortúnio de dezenas de milhares
que perderam tudo e de centenas de mortos.
Na segunda vez, 23 de maio, mesmo cenário, quase em pânico,
fui socorrido por uma equipe da Polícia Judiciária do TR-4,
reforçada por um voluntariado de Brasília. Até cadeira de rodas
no desembarque….Vendo os esguichos efervescentes da boca
dos bueiros não tenho mais a certeza de que não pedirei socorro
mais uma vez.”
O texto acima é um(a)
- ✂️
- ✂️
- ✂️
- ✂️
- ✂️