A segunda vida da saudade
A saudade é uma repescagem. Pela saudade, você descobre que ama alguém mais do que imaginava: é uma necessidade de companhia despertada pela solidão mais funda.
A saudade é um GPS do coração. Você se vê desorientado, longe de um destino, e percebe o valor de uma presença que completa o seu humor, acolhe seus defeitos e ilumina seus dias.
É uma lembrança a dois. Diferente da nostalgia, que é pessoal e intransferível, a saudade se partilha, sofre junto. A nostalgia é encerrada; a saudade é um sentimento em progresso.
Pela saudade, você revisa seus atos e reconhece suas limitações. Não é julgamento do outro, mas de si mesmo com o outro. Uma justiça emocional que tenta consertar omissões e faltas de gentileza.
Ela começa no medo para vencer o medo. Ensina coragem para defender sua autenticidade, enfrentando preconceitos e opiniões alheias. Fortalece vínculos, aponta quem merece permanecer.
A saudade não deixa ninguém para trás. Emparelha almas, sincroniza pensamentos. Consegue ser perdão e gratidão ao mesmo tempo.
É a memória, no período de escassez, de tudo o que foi bom. Um trailer do fim que não queremos assistir. Uma despedida dentro do encontro. Um adeus ensaiado que vira vínculo duradouro e definitivo.
Texto Adaptado
CARPINEJAR, Fabrício. A segunda vida da saudade. O Tempo, 26 set. 2025. Disponível em:
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/2025/9/26/a-seg unda-vida-da-saudade . Acesso em: 26 out. 2025.