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"Sinto falta do papel e da fiel Bic" Nesse segmento, o cronista...

Responda: "Sinto falta do papel e da fiel Bic" Nesse segmento, o cronista emprega o nome de uma marca em lugar de "caneta esferográfica", caracterizando uma figura de linguagem denomi...


Q30018 | Português, Pedagogo, CONDER, FGV

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Tecnologia

     Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende.
Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip". Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!"

     Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.

     Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo)
"Sinto falta do papel e da fiel Bic"

Nesse segmento, o cronista emprega o nome de uma marca em lugar de "caneta esferográfica", caracterizando uma figura de linguagem denominada
David Castilho
Por David Castilho em 07/01/2025 22:01:42🎓 Equipe Gabarite
Gabarito: d)

No trecho apresentado, o cronista utiliza o nome de uma marca, "Bic", para se referir a uma "caneta esferográfica". Esse recurso é conhecido como metonímia, que consiste em substituir um termo por outro, havendo uma relação de proximidade ou associação entre eles. Neste caso, a marca "Bic" é utilizada para representar o objeto "caneta esferográfica".

As demais opções não se encaixam no contexto do texto:
a) Metáfora: consiste em uma comparação implícita, onde um termo é substituído por outro com o qual guarda alguma semelhança.
b) Hipérbole: figura de linguagem que consiste na ampliação exagerada de uma ideia com o objetivo de enfatizar algo.
c) Eufemismo: consiste em suavizar uma expressão dura ou desagradável.
e) Antítese: figura de linguagem que consiste na apresentação de ideias opostas.
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