Leia o texto a seguir.
Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade
Essa noite vai se arrepiar
(…)
Num tempo página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
(…)
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
(…)
(Samba-enredo composto por Chico Buarque e Francis Hime. 1984)
Chico Buarque e Francis Hime, assim como outros músicos e compositores brasileiros, usaram a sua arte para relatar fatos censurados e denunciar o regime militar (1964-1984), burlando, poeticamente, a censura.O trecho do samba-enredo Vai passar refere-se
a) ao fim da ditadura militar, com a vitória das forças políticas de esquerda representadas na eleição da chapa Tancredo Neves e Paulo Maluf, pelo PMDB, em 1985.
b) ao processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito por voto direto em 1989.
c) à campanha das Diretas Já, iniciada no final de 1983, que pressionava os políticos e o governo a aceitarem a emenda Dante de Oliveira, propondo eleições diretas para presidente.
d) à aprovação do Ato Institucional Número Dois (AI-2), que reativava a democracia e as eleições diretas para presidente no Brasil.
e) à atuação dos juristas que conseguiram estabelecer as primeiras eleições diretas, por meio do sufrágio universal, em 1984.