Texto II
Serviu suas famosas bebidas
para Vinicius, Carybé e Pelé
Os pedaços de coco in natura são colocados no
liquidificador e triturados. O líquido resultante é coado
com uma peneira de palha e recolocado no aparelho,
onde é batido com açúcar e leite condensado. Ao fim,
5 adiciona-se aguardente.
A receita de Diolino Gomes Damasceno, ditada à
Folha por seu filho Otaviano, parece trivial, mas a co-
nhecida batida de coco resultante não é. Afinal, não é
possível que uma bebida qualquer tenha encantado
10 um time formado por Jorge Amado (diabético, tomava
sem açúcar), Pierre Verger, Carybé, Mussum, João
Ubaldo Ribeiro, Angela Rô Rô, Wando, Vinicius de
Moraes e Pelé (tomava dentro do carro).
Baiano nascido em 1931 na cidade de Ipecaetá,
15 interior do estado, Diolino abriu seu primeiro estabe-
lecimento em 1968, no bairro do Rio Vermelho, redu-
to boêmio de Salvador. Localizado em uma garagem,
ganhou o nome de MiniBar.
A batida de limão — feita com cachaça, suco de
20 limão galego, mel de abelha de primeiríssima quali-
dade e açúcar refinado, segundo o escritor Ubaldo
Marques Porto Filho — chamava a atenção dos ho-
mens, mas Diolino deu por falta das mulheres da épo-
ca. É que elas não queriam ser vistas bebendo em
25 público, e então arranjavam alguém para comprar as
batidas e bebiam dentro do automóvel.
Diolino bolou então o sistema de atendimento di-
reto aos veículos, em que os garçons iam até os car-
ros que apenas encostavam e saíam em disparada. A
30 novidade alavancou a fama do bar. No auge, chegou
a produzir 6.000 litros de batida por mês.
SETO, G. Folha de S.Paulo. Caderno “Cotidiano”. 17 maio
2019, p. B2. Adaptado.