A corrida armamentista do consumo
Imagine uma corrida em que os contendores se afastam cada vez mais do objetivo pelo qual competem. A corrida armamentista tem dinâmica e propriedades conhecidas: um país decide se armar; os países vizinhos sentem-se vulneráveis e decidem fazer o mesmo a fim de não ficarem defasados; sua reação, porém, deflagra uma nova rodada de investimento bélico no primeiro país, o que obriga os demais a seguirem outra vez os seus passos. A escalada armamentista leva os participantes a dedicarem uma parcela crescente de sua renda e trabalho à garantia da segurança externa, mas o resultado é o contrário do pretendido.
A corrida do consumo tem uma lógica semelhante à da corrida armamentista. Nenhum consumidor é uma ilha: existe uma forte e intrincada interdependência entre os anseios de consumo das pessoas. Aquilo que cada uma delas sente que “precisa” ou “não pode viver sem” depende não só dos seus “reais desejos e necessidades”, mas também, e talvez sobretudo , ao menos nas sociedades mais afluentes, daquilo que os outros ao seu redor possuem. A cada vez que um novo artigo de consumo é introduzido no mercado, o equilíbrio se rompe e o desconforto causado pela percepção da falta impele à ação reativa da compra do bem.
Em ambas as corridas - a armamentista e a do consumo - a lógica da situação obriga a todos a correrem cada vez mais, como hamsters confinados a esferas rotatórias, para não sair do lugar.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 102-103)
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a) O autor do texto acredita que as corridas mais competitivas são aquelas cujos participantes jamais se satisfazem com algum resultado alcançado.
b) Nada satisfazem mais as pessoas obsecadamente competitivas do que haverem cada vez mais e mais metas a se alcançarem.
c) Para muitos o mérito das corridas mais competitivas residem no fato de que nunca se chegam aos melhores resultados.
d) São próprias das competições extremadas as pessoas se envolverem tanto com a disputa que perdem o censo mesmo do limite.
e) Por mais que se empenhe na competição os competidores mais fanatisados parece que de fato não tem o desejo de chegar à seus objetivos.