A história dos negros no Brasil é marcada por episódios
de conflito e manifestações de resistência. Na cidade de
Salvador, o bloco
Ilê desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1975, causando espanto entre as elites da Bahia e um despertar
para a pauta racial em uma das cidades mais negras do
país. “Fomos escoltados pela polícia e fomos vaiados
pela população, com alguns aplausos tímidos em meio
às vaias. Fomos considerados negros rebeldes que estavam espalhando racismo na cidade”, lembra Arany
[Santana, 72, diretora licenciada do bloco]. [...] O jornal
A Tarde , um dos mais tradicionais da cidade, publicou
na época a nota “Bloco racista, nota destoante”, afirmando que o Ilê Aiyê havia proporcionado “um feio espetáculo” com uma “imprópria exploração” do tema do
racismo no Carnaval. Anos depois, o jornal se retratou.
PITOMBO, J. P. Ilê Aiyê, 50, afrontou ditadura com bloco-manifesto e foi levante da Bahia negra no Carnaval. Folha de São Paulo ,
São Paulo, 07 fev. 2024. Adaptado. Disponível em: https://www1.
folha.uol.com.br/cotidiano/2024/02/ile-aiye-50-afrontou-ditadura-
-com-bloco-manifesto-e-foi-levante-da-bahia-negra-no-carnaval.
shtml#comentarios. Acesso em: 8 fev. 2024.
Ao longo de nossa história, a relação entre racismo e democracia no Brasil
a) constituiu-se e ganhou novos contornos no contexto
democrático da década de 1970, momento no qual o
Brasil, influenciado pelos movimentos estudantis europeus e de defesa de direitos civis norte-americanos,
assegurava os direitos políticos de livre manifestação
e de liberdade de pensamento a seus cidadãos.
b) estabeleceu-se apenas a partir da Constituição de
1988, pois não é possível identificar, na História, nenhum outro momento de defesa dos direitos dos negros ou afirmação de sua identidade.
c) implicou superação do racismo pelo estabelecimento
da democracia, uma vez que, após a abolição do regime escravista no Brasil, em 1889, o surgimento de
tal bloco “Ilê” e suas pautas raciais são, como indica a
matéria do jornal A Tarde , um claro exemplo de sobrepujamento do racismo no país.
d) segue sendo, muitas vezes, desvirtuada pelo chamado “mito da democracia racial”, equivocado discurso
segundo o qual as oportunidades de acumulação de
riqueza, de prestígio social e de poder estão igualmente acessíveis a todos.
e) foi marcada pelo advento da República, em 1888, uma
vez que, com ela, suprimiram-se, legalmente e de fato,
as distinções entre todos os brasileiros, os quais, de
súditos de uma monarquia, tornaram-se igualmente
livres e iguais, a despeito de origem, gênero ou raça,
como preconizava o ideário republicano.