Ao realizar uma análise da moral antiga, Foucault se ocupou de temas como ética, verdade, estética da existência, sujeito da
ação e sujeito ético. Alguns desses temas já estavam presentes de forma pouco desenvolvida nas fases anteriores e ganham
maior destaque, como a liberdade e a agência do sujeito ético-político. As palavras de Ewald capturam com maestria a
movimentação teórica realizada por Foucault na passagem da fase genealógica para a fase ética:
“As portas do asilo, os muros da prisão desaparecem, dando lugar a falas livres em que gregos e romanos discutiam as melhores
maneiras de conduzir suas vidas. A paisagem do confinamento cede lugar à liberdade luminosa do sujeito.”
(EWALD, 1984, p. 71-73.)
O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) caracterizou a filosofia grega de Sócrates e outros filósofos pelo problema do
“cuidado de si” (em grego, epiméleia heautoú ). Nesta análise, Foucault :
a) Desconsiderou em grande parte de seus relatos a importância de Sócrates e de Platão para o desenvolvimento da filosofia
grega e de correntes posteriores à desses filósofos.
b) Determinou o “divisor de águas” entre a filosofia pagã, sem qualquer vestígio de ética, e a filosofia religiosa e cristã, com a
origem das tradições éticas entre os povos gregos e romanos.
c) Indicou que o “cuidado de si” já era uma preocupação corrente na filosofia desde os seus primórdios e fazia parte da tradição
sofística, como confluência das tradições orientais que as moldaram.
d) Considerou que esse tipo de cuidado estaria na base da ideia socrática de “conhece-te a ti mesmo”, formando um princípio
fundamental da atitude ética e filosófica de quase toda a cultura greco-romana.