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41 Q13289 | Português, Administrador, FUNARTE, FGV

Texto associado.
Brasileiro, Homem do Amanhã
(Paulo Mendes Campos)

    Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
    Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
    Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia, logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:

Palavras
Hier: ontem
Aujourd’hui: hoje
Demain: amanhã
A única palavra importante é “amanhã”.
Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
O texto da crônica mostra, em sua estruturação, um contínuo tom irônico. O segmento abaixo que foge a essa regra é:

42 Q13288 | Português, Administrador, FUNARTE, FGV

Texto associado.
Brasileiro, Homem do Amanhã
(Paulo Mendes Campos)

    Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
    Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
    Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia, logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:

Palavras
Hier: ontem
Aujourd’hui: hoje
Demain: amanhã
A única palavra importante é “amanhã”.
Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
A frase de Oscar Wilde e Mark Twain – nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã – constrói seu humorismo:

43 Q42045 | Português, Assistente Administrativo, FUNARTE, FGV

Texto associado.
A GRATIDÃO

    Desta vez, trago-vos algumas histórias e fico grato pelo tempo que possa ser dispensado à sua leitura. Falam-nos de gratidão e poderão fazer-nos pensar no quanto a gratidão fará, ou não, parte das nossas vidas. Estou certo de que sabereis extrair a moral da história.
    Uma brasileira, sobrevivente de um campo de extermínio nazista, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a encaminhava para a câmara de gás. E que, nas duas vezes, o mesmo soldado alemão a retirou da fila.
    Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na França. Quando as tropas de Hitler invadiram o país, Salazar ordenou que não se concedesse visto para quem tentasse fugir do nazismo. Contrariando o ditador, Aristides salvou dez mil judeus de uma morte certa. Pagou bem caro pela sua atitude humanitária. Salazar destituiu-o do cargo e o fez viver na miséria até o fim da vida. Diz um provérbio judeu que “quem salva uma vida salva a humanidade". Em sinal de gratidão, há vinte árvores plantadas em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E Aristides recebeu dos israelenses o título de “Justo entre as Nações", o que equivale a uma canonização católica.
    Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar a câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam ido para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou com vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a porta da câmara, se isso não fazia parte de sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo centenas de empregados que entram e saem, todos os dias, e esse é o único funcionário que me cumprimenta ao chegar e se despede ao sair. Hoje ele me disse “bom dia" ao chegar. E não percebi que se despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo. Por isso o procurei e o encontrei.
    Talvez a gratidão devesse ser uma rotina nas nossas vidas, algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada dos nossos cotidianos, dos nossos gestos. E se começássemos cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?

(José Pacheco, Dicionário de valores)
O pensador francês La Rochefoucauld disse certa vez sobre a gratidão “Para a maioria dos homens, a gratidão não passa de um desejo velado de receber maiores benefícios”. Nesse caso, os homens gratos seriam:

44 Q42058 | Administração Geral, Assistente Administrativo, FUNARTE, FGV

Maria trabalha em uma empresa na qual o presidente é responsável pela tomada de decisões. O gerente delega pouco de suas ações. Maria é especialista na função que exerce e tem suas atribuições muito bem definidas. Maria trabalha numa organização do tipo:

45 Q42039 | Português, Assistente Administrativo, FUNARTE, FGV

Texto associado.
A GRATIDÃO

    Desta vez, trago-vos algumas histórias e fico grato pelo tempo que possa ser dispensado à sua leitura. Falam-nos de gratidão e poderão fazer-nos pensar no quanto a gratidão fará, ou não, parte das nossas vidas. Estou certo de que sabereis extrair a moral da história.
    Uma brasileira, sobrevivente de um campo de extermínio nazista, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a encaminhava para a câmara de gás. E que, nas duas vezes, o mesmo soldado alemão a retirou da fila.
    Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na França. Quando as tropas de Hitler invadiram o país, Salazar ordenou que não se concedesse visto para quem tentasse fugir do nazismo. Contrariando o ditador, Aristides salvou dez mil judeus de uma morte certa. Pagou bem caro pela sua atitude humanitária. Salazar destituiu-o do cargo e o fez viver na miséria até o fim da vida. Diz um provérbio judeu que “quem salva uma vida salva a humanidade". Em sinal de gratidão, há vinte árvores plantadas em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E Aristides recebeu dos israelenses o título de “Justo entre as Nações", o que equivale a uma canonização católica.
    Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar a câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam ido para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou com vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a porta da câmara, se isso não fazia parte de sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo centenas de empregados que entram e saem, todos os dias, e esse é o único funcionário que me cumprimenta ao chegar e se despede ao sair. Hoje ele me disse “bom dia" ao chegar. E não percebi que se despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo. Por isso o procurei e o encontrei.
    Talvez a gratidão devesse ser uma rotina nas nossas vidas, algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada dos nossos cotidianos, dos nossos gestos. E se começássemos cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?

(José Pacheco, Dicionário de valores)
Todas as histórias narradas mostram em comum:

46 Q42046 | Português, Assistente Administrativo, FUNARTE, FGV

Texto associado.
A GRATIDÃO

    Desta vez, trago-vos algumas histórias e fico grato pelo tempo que possa ser dispensado à sua leitura. Falam-nos de gratidão e poderão fazer-nos pensar no quanto a gratidão fará, ou não, parte das nossas vidas. Estou certo de que sabereis extrair a moral da história.
    Uma brasileira, sobrevivente de um campo de extermínio nazista, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a encaminhava para a câmara de gás. E que, nas duas vezes, o mesmo soldado alemão a retirou da fila.
    Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na França. Quando as tropas de Hitler invadiram o país, Salazar ordenou que não se concedesse visto para quem tentasse fugir do nazismo. Contrariando o ditador, Aristides salvou dez mil judeus de uma morte certa. Pagou bem caro pela sua atitude humanitária. Salazar destituiu-o do cargo e o fez viver na miséria até o fim da vida. Diz um provérbio judeu que “quem salva uma vida salva a humanidade". Em sinal de gratidão, há vinte árvores plantadas em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E Aristides recebeu dos israelenses o título de “Justo entre as Nações", o que equivale a uma canonização católica.
    Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar a câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam ido para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou com vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a porta da câmara, se isso não fazia parte de sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo centenas de empregados que entram e saem, todos os dias, e esse é o único funcionário que me cumprimenta ao chegar e se despede ao sair. Hoje ele me disse “bom dia" ao chegar. E não percebi que se despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo. Por isso o procurei e o encontrei.
    Talvez a gratidão devesse ser uma rotina nas nossas vidas, algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada dos nossos cotidianos, dos nossos gestos. E se começássemos cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?

(José Pacheco, Dicionário de valores)
A última frase do texto “E se começássemos cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?” se refere a uma letra de música de Violeta Parra. Essa menção mostra a presença no texto de um fator denominado:

47 Q13276 | Administração Pública, Administrador, FUNARTE, FGV

No contexto da administração pública federal brasileira, as entidades administrativas estão vinculadas ao órgão do Poder Executivo Federal em cuja área de competência se enquadra a natureza de sua principal tarefa. Uma entidade administrativa criada por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada, é denominada:

48 Q42051 | Matemática, Assistente Administrativo, FUNARTE, FGV

Certa empresa solicita a cada funcionário uma senha de segurança formada por uma vogal e duas consoantes diferentes do nosso alfabeto atual. Exemplos de senhas desse tipo são KPA e BIG.

O número de senhas diferentes que podem ser formadas é:

49 Q820224 | Legislação Federal, Lei 4320 1964, Contador, Funarte, FGV

De acordo com a Lei nº 4.320/64, a contabilidade pública deve utilizar o regime:

50 Q13290 | Português, Administrador, FUNARTE, FGV

Texto associado.
Brasileiro, Homem do Amanhã
(Paulo Mendes Campos)

    Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
    Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
    Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia, logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:

Palavras
Hier: ontem
Aujourd’hui: hoje
Demain: amanhã
A única palavra importante é “amanhã”.
Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
A linguagem coloquial aparece seguidas vezes no texto. O segmento que a exemplifica é:
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