Às vezes ouço dizer que qualquer pessoa pode observar e escrever um livro sobre um povo primitivo. Talvez qualquer pessoa possa, mas não vai estar necessariamente acrescentando algo à antropologia. Na ciência, como na vida, só se acha o que se procura. Não se pode ter respostas quando não se sabe quais são as perguntas. Por conseguinte, a primeira exigência para que se possa realizar uma pesquisa de campo é um treinamento rigoroso em teoria antropológica, que dê as condições de saber o quê e como observar, e o que é teoricamente significativo. É essencial percebermos que os fatos em si não têm significado. Para que o possuam, devem ter certo grau de generalidade. É inútil partir para campo às cegas. EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 243 (com adaptações). Nesse fragmento de texto, Evans-Pritchard argumenta que
a) a boa etnografia deve, necessariamente, conjugar teoria e prática.
b) o trabalho de campo é sempre instintivo, não pode ser ensinado e só é aprendido na prática.
c) um bom trabalho de campo resume-se ao detalhamento do máximo de fatos e a sua descrição minuciosa.
d) não é necessário especialização para realizar uma etnografia que contribua para o desenvolvimento da antropologia.
e) é importante chegar a campo sem idéias preconcebidas, sem questões predeterminadas e sem uma teoria a ser seguida.