Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações,
nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se
semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto?
Não há um homem que em um sermão entre em si e se
resolva, não há um moço que se arrependa, não há um
velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus
não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não
é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a
palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus
tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje
nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e
tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero
começar pregando-me a mim. A mim será, e também
a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que
aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões Escolhidos , v. 2. São Paulo: Edameris, 1965
No Sermão da sexagésima , padre Antônio Vieira
questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta
como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as
quais têm por objetivo principal
✂️ a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre
o conteúdo que será abordado no sermão. ✂️ b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os
temas abordados nas pregações. ✂️ c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja
não possui respostas. ✂️ d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador
sobre a eficácia das pregações. ✂️ e) questionar a importância das pregações feitas pela
Igreja durante os sermões.