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Literatura - Escolas Literárias - Questões com Gabarito (Respostas Comentadas)

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🏷️ 9 questões
👥 3
Fácil
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1 Q878406 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Para muitos escritores [brasileiros] do século XVII e de grande parte do XVIII, a linguagem metafórica e os jogos de argúcia do espírito barroco eram maneiras normais de comunicar a sua impressão a respeito do mundo e da alma. E isto só poderia ser favorecido pelas condições do ambiente, formado de contrastes entre a inteligência do homem culto e o primitivismo reinante, entre a grandeza das tarefas e a pequenez dos recursos, entre a aparência e a realidade. Como a desproporção gera o senso dos extremos e das oposições, esses escritores se adaptaram com vantagem a uma moda literária que lhes permitia empregar ousadamente a antítese, a hipérbole, as distorções mais violentas da forma e do conceito. Para eles, o estilo barroco foi uma linguagem providencial e, por isso, gerou modalidades tão tenazes de pensamento e expressão que, apesar da passagem das modas literárias, muito delas permaneceu como algo congenial ao país.

     No Brasil, sobretudo naqueles séculos, esse estilo equivalia a uma visão — graças à qual foi possível ampliar o domínio do espírito sobre a realidade, atribuindo-se sentido alegórico à flora, magia à fauna, grandeza sobre-humana aos atos. Poderoso fator ideológico, ele compensa de certo modo a pobreza dos recursos e das realizações; e, ao dar transcendência às coisas, a fatos e a pessoas, transpõe a realidade local à escala do sonho.

Antonio Candido. Literatura de dois gumes. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 168 (com adaptações). 

A partir do texto precedente, julgue o item a seguir, considerando as relações entre o estilo barroco e a realidade brasileira do século XVII.  

O contraste “entre a aparência e a realidade” diz respeito tanto às contradições da vida social brasileira no século XVII quanto a um dos eixos centrais do estilo barroco: “o senso dos extremos e das oposições”.


2 Q878407 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Para muitos escritores [brasileiros] do século XVII e de grande parte do XVIII, a linguagem metafórica e os jogos de argúcia do espírito barroco eram maneiras normais de comunicar a sua impressão a respeito do mundo e da alma. E isto só poderia ser favorecido pelas condições do ambiente, formado de contrastes entre a inteligência do homem culto e o primitivismo reinante, entre a grandeza das tarefas e a pequenez dos recursos, entre a aparência e a realidade. Como a desproporção gera o senso dos extremos e das oposições, esses escritores se adaptaram com vantagem a uma moda literária que lhes permitia empregar ousadamente a antítese, a hipérbole, as distorções mais violentas da forma e do conceito. Para eles, o estilo barroco foi uma linguagem providencial e, por isso, gerou modalidades tão tenazes de pensamento e expressão que, apesar da passagem das modas literárias, muito delas permaneceu como algo congenial ao país.

     No Brasil, sobretudo naqueles séculos, esse estilo equivalia a uma visão — graças à qual foi possível ampliar o domínio do espírito sobre a realidade, atribuindo-se sentido alegórico à flora, magia à fauna, grandeza sobre-humana aos atos. Poderoso fator ideológico, ele compensa de certo modo a pobreza dos recursos e das realizações; e, ao dar transcendência às coisas, a fatos e a pessoas, transpõe a realidade local à escala do sonho.

Antonio Candido. Literatura de dois gumes. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 168 (com adaptações). 

A partir do texto precedente, julgue o item a seguir, considerando as relações entre o estilo barroco e a realidade brasileira do século XVII.  

De acordo com o texto, uma das contribuições da literatura barroca para a sociedade da época foi evidenciar que a linguagem figurada e alegórica podia ampliar a compreensão da realidade nacional contraditória. 


3 Q878408 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Para muitos escritores [brasileiros] do século XVII e de grande parte do XVIII, a linguagem metafórica e os jogos de argúcia do espírito barroco eram maneiras normais de comunicar a sua impressão a respeito do mundo e da alma. E isto só poderia ser favorecido pelas condições do ambiente, formado de contrastes entre a inteligência do homem culto e o primitivismo reinante, entre a grandeza das tarefas e a pequenez dos recursos, entre a aparência e a realidade. Como a desproporção gera o senso dos extremos e das oposições, esses escritores se adaptaram com vantagem a uma moda literária que lhes permitia empregar ousadamente a antítese, a hipérbole, as distorções mais violentas da forma e do conceito. Para eles, o estilo barroco foi uma linguagem providencial e, por isso, gerou modalidades tão tenazes de pensamento e expressão que, apesar da passagem das modas literárias, muito delas permaneceu como algo congenial ao país.

     No Brasil, sobretudo naqueles séculos, esse estilo equivalia a uma visão — graças à qual foi possível ampliar o domínio do espírito sobre a realidade, atribuindo-se sentido alegórico à flora, magia à fauna, grandeza sobre-humana aos atos. Poderoso fator ideológico, ele compensa de certo modo a pobreza dos recursos e das realizações; e, ao dar transcendência às coisas, a fatos e a pessoas, transpõe a realidade local à escala do sonho.

Antonio Candido. Literatura de dois gumes. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 168 (com adaptações). 

A partir do texto precedente, julgue o item a seguir, considerando as relações entre o estilo barroco e a realidade brasileira do século XVII.  

A “antítese, a hipérbole, as distorções mais violentas da forma e do conceito” estão entre as características que mais evidenciaram o contraste entre o estilo barroco e a realidade nacional.


4 Q878409 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

    Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira. 

A expressão “fascismo tupinambá”, ao final do texto, carrega um teor político de crítica ao momento histórico no qual a obra se ambienta, o qual envolve fatos como o regime de exceção no Brasil.


5 Q878410 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira. 

No texto, o autor pondera sobre os sentidos de liberdade para depois tecer uma crítica a escritores que atribuem à prisão a falta de criatividade. 


6 Q878411 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

 Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira. 

A metalinguagem está presente no texto como recurso utilizado pelo autor para fazer uma reflexão sobre as limitações objetivas e subjetivas do seu processo de escrita.


7 Q878412 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira. 

A obra Memórias do Cárcere pode ser concebida como um testemunho literário, construído na perspectiva do sujeito-autor, sobre a prisão a que Graciliano Ramos foi submetido durante o Estado Novo e, por conseguinte, sobre as agruras desse período, como a tortura, a vida em porões e as privações provocadas por um regime ditatorial. 


8 Q878413 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira.

Graciliano Ramos, cuja obra é marcada pela crítica social, integra a Geração de 30, que caracteriza o período da literatura brasileira no qual os temas nacionalistas e regionalistas se fortalecem e os escritores, especialmente os nordestinos, retratam a realidade do sertão e a exploração do homem. 


9 Q878414 | Português, Literatura, Professor de Literatura, SEDUCAL, CESPE CEBRASPE, 2021

Texto associado.

Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade — talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício.

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Editora Record. 

 

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsecutivo, relacionados ao Modernismo e a tendências contemporâneas da literatura brasileira. 

Embora a obra de Graciliano Ramos seja caracterizada como realista, ou seja, contrária às concepções românticas da arte, as Memórias do Cárcere começaram a ser redigidas em um momento de mudança de padrões literários, que colocou em segundo plano o realismo e foi considerado pela crítica e pela história da literatura um divisor de águas na literatura brasileira moderna. 


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