A origem da polis grega, situada entre os séculos VIII e VII
(a.C.), é decisiva na história do pensamento grego, alega o
historiador Jean-Pierre Vernant”. [...] Por ela, a vida social e as
relações de poder tomam uma forma nova. [...] Tanto no plano
intelectual como no domínio das instituições. [...] O que implica o
sistema da polis é primeiramente uma extraordinária premência
da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder”.
As Origens do Pensamento Grego . Bertrand
Brasil. RJ. 1998.
a) sob o prisma do pensamento, a predominância da arte
retórica aprofunda a autoridade dos aedos, poetas como
Homero e Hesíodo, consagrados como representantes da
cultura grega clássica. Institucionalmente, por esse mesmo
motivo eles serão alçados ao topo dos cargos de poder
durante a ascensão da polis.
b) culturalmente, os autores das tragédias, como Ésquilo,
Sófocles, Eurípedes, faziam de suas obras a referência para as
condutas corretas da população nas cidades, expondo
inclusive as penas para os desvios. Por esse motivo, seus
textos foram referenciais nas tomadas de decisões políticas
gregas na fase citada.
c) Hermes, divindade que dispõe da linguagem, da eloquência,
passou a ter na polis grande distinção em relação aos demais
deuses e heróis. A ágora em Atenas foi edificada em sua
homenagem. Em decorrência, a comunicação prevaleceu
sobre as bulas políticas, elevando assim a popularidade das
decisões nesse contexto.
d) do ponto de vista intelectual, a argumentação racional,
sustentada logicamente, ganha espaço sobre a narrativa
épica e mítica. Já na esfera institucional, legitima-se o debate,
o contraditório no lugar do dito do soberano e da norma
religiosa nesse período.
e) os sofismas, argumentações enganosas, tiveram seu auge
com a instituição da polis e a preponderância da palavra, o
que levou toda discursividade intelectual ao descrédito.
Politicamente, os filósofos sofistas tiveram papel decisivo na
reedição do despotismo na Grécia clássica.