Frei Vicente de Salvador (1564-1635) escreveu em sua
História do Brazil (1627) que “Da largura que a terra do Brasil tem
para o sertão não trato, porque até agora não houve quem a
andasse por negligência dos portugueses, que sendo grandes
conquistadores de terras não aproveitam delas, mas contentamse de andar arranhando ao longo do mar como caranguejos.”
OLIVEIRA, Maria Lêda. A História do Brazil de Frei Vicente do Salvador.
História e Política do Império Português no século XVII. RJ: Versal; SP:
Odebrecht, 2008.
Sobre o julgamento do historiador, pode-se dizer que
✂️ a) apoia-se no fato de que a colonização portuguesa não tinha
interesse no sertão brasileiro, uma vez que os espanhóis já
haviam ali se instalado e exploravam o plantio do tabaco e do
mate em parceria com indígenas guaranis; além disso,
prospectavam metais preciosos. ✂️ b) expressa a dinâmica colonizadora no início e na generalidade,
considerando-se imperativos como a logística de transportes
marítimos, a dificuldade de contatos com comunidades
indígenas do interior e a preocupação de proteger o território
litorâneo de invasões estrangeiras. ✂️ c) é uma visão historicamente descabida, uma vez que no
centro sul da colônia, como a capitania de Itamaracá, havia
iniciativas de adentrar o território e fundar vilas, tais como o
fizeram, durante o século XVII, as expedições de
bandeirantes. ✂️ d) a metáfora empregada era inadequada, pois os colonizadores
portugueses não apenas arranhavam o litoral, mas
devastaram a mata ao longo da costa litorânea para instalar
em seu lugar o plantio de lavouras de café em regime de
monocultura. ✂️ e) os interesses dos colonizadores, no início, eram satisfeitos
pelos indígenas tupiniquins e tupinambás que ocupavam
grande parte do litoral brasileiro e que, antes mesmo da
presença portuguesa, já produziam mercadorias de
exportação em larga escala.