“Começarei esta carta com minhas
observações sobre o livro de Galileu. Encontro,
em geral, que ele filosofa muito melhor que o
vulgo, apartando-se tanto como pode dos erros
da Escola, e procura examinar as matérias
físicas com razões matemáticas. Nisso estou
inteiramente de acordo com ele e considero
que não há outro meio para se encontrar a
verdade. Mas parece-me que se equivoca muito
na medida em que faz continuamente
digressões e não se detém para explicar por
completo uma matéria, o que mostra que não
as têm examinado por ordem e que, sem haver
considerado as primeiras causas da natureza,
somente tem buscado as razões de alguns
efeitos particulares, e assim tem construído
sem fundamento.”
(DESCARTES, R. Ouvres des Descartes. II, p. 380. apud
MEDEIROS, D. Descartes e o fundamento metafísico da
inércia natural dos corpos na correspondência com Mersenne.
In: Modernos & Contemporâneos, Campinas, v. 1, n. 2.,
jul./dez., 2017. p. 71).
Considerando este trecho da carta de
Descartes a Mersenne sobre os Discursos de
Galileu e seus conhecimentos sobre o
pensamento cartesiano, assinale a alternativa
correta.
✂️ a) A crítica a Galileu é a de que este teria fundado
seu esquema geométrico de explicação da
mecânica dos corpos nos seus aspectos
qualitativos ✂️ b) Mesmo tendo procedido corretamente ao
apresentar razões matemáticas para explicar o
movimento dos corpos, Descartes entende que
Galileu não havia avançado de modo suficiente
no método, assumindo como válidas razões
que se fundam em aspectos contingentes da
matéria, sem conseguir sair do campo do
empírico ✂️ c) Descartes afirma que a res extensa é redutível
ao que Galileu considerava, sem levar ao fim o
método matemático, como qualidades
imediatamente perceptíveis das coisas, ou
seja, sem a mediação dos sentidos ou, com
outras palavras, aos aspectos quantitativos
destas ✂️ d) Apesar de reconhecer e louvar em Galileu o
uso das matemáticas na descrição da natureza,
para Descartes, ele falhara por não ter
começado das primeiras causas, isto é, não ter
dado conta do ponto de partida clássico da
teoria das causas