Mulher de 67 anos de idade, tabagista de 40 anos-maço (há 2 anos com aumento para 2 maços/dia, depois do fale- cimento de um filho), apresenta-se recorrentemente ao pronto-socorro com angina prolongada e não dependente de variações de consumo miocárdico de oxigênio, sempre de- sencadeada entre 5 e 7 horas da manhã, inversão de onda T em paredes anterior, lateral e inferior, supradesnivelamento de ST inferior a 1 mm nas mesmas paredes, elevação de tro- ponina para 5 vezes o limite do percentil 99. Já se encontra no quarto cateterismo, sempre com obstrução única de 30%, pouco extensa, da luz do terço inicial de uma artéria cir- cunflexa dominante. A prescrição medicamentosa está oti- mizada e a paciente parece aderir aos medicamentos, aderir imperfeitamente às mudanças de estilo de vida e não aderir à prescrição de abandono do tabaco. Entre as considerações válidas que se podem traçar sobre esse caso, tem-se que
✂️ a) a angina variante de Prinzmetal predomina largamente entre homens não orientais e pode acometer tanto segmentos ateroscleróticos como normais das artérias coronárias, guardando relação quase tão forte com a hiperinsulinemia quanto com o tabagismo, tradicionalmente considerado. ✂️ b) a angina variante de Prinzmetal é diagnosticada mais frequentemente na sexta década de vida e pode se correlacionar também com condições de disautonomia, uso de maconha ou de álcool, botulismo por via alimentar e hipomagnesemia, mas não se associa fortemente com hipertensão ou hipercolesterolemia. ✂️ c) a síndrome cardíaca X e a angina variante de Prinzmetal podem apresentar-se da mesma maneira, com angina não evocada por esforços, pequenas e isoladas placas ate roscleróticas, insuficientes per se para gerar isquemia significativa, sendo diferenciadas apenas pelos testes provocativos com ergonovina ou acetilcolina. ✂️ d) a síndrome cardíaca X é composta por obesidade, resistência à insulina, hipertensão e dislipidemia, podendo provocar tais manifestações anginosas pela composição de alto consumo de oxigênio pela obesidade, hiper-reatividade arteriolar pela hiperinsulinemia e redução da atividade de óxido nítrico sintase endotelial pela dislipidemia. ✂️ e) portadores da síndrome cardíaca X devem ter arteriografia coronária completamente normal, o que é o caso para pouco menos de 5% dos pacientes encaminhados para cateterismo de urgência, predominando entre mulhe res após a menopausa e podendo corresponder simplesmente à hipersensibilidade dolorosa do miocárdio.