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O Dedo
Inclinara-me para ver o estranho objeto quando notei opequeno feixe de fibras emergindo na areia banhada pelaespuma. Quando recorri aos óculos é que vi: não era algodãomas uma vértebra meio descarnada – a coluna vertebral deum grande peixe? Fiquei olhando. Espera, mas o que seriaaquilo? Um aro de ouro? Agora que a água se retraíra eupodia ver um aro de ouro brilhando em torno da vértebra,enfeixando as fibras que tentavam se libertar, dissolutas.Com a ponta do cipó, revolvi a areia. Era um dedo anularcom um anel de pedra verde preso ainda à raiz intumescida.Como lhe faltasse a última falange, faltava o que poderia mefazer recuar; a unha. Unha pintada de vermelho, o esmaltedescascando, acessório fiel ao principal até no processo dedesintegração. Unha de mulher burguesa, à altura do aneldo joalheiro que se esmerou na cravação da esmeralda.Penso que se restasse a unha certamente eu teria fugido,mas naquele estado de despelamento o fragmento do dedotrabalhado pela água acabara por adquirir a feição de umsimples fruto do mar. Mas havia o anel.
A dona do dedo? Mulher rica e de meia idade que asjovens não usam joias, só as outras. Afogada no mar? A ondacomeçou inocente lá longe e foi se cavando cada vez maisalta, mais alta, Deus meu! A fuga na água e a praia tão longe,ah! mas o que é isso?... Explosão de espuma e sal. Sal.
(Lygia Fagundes Telles, Um coração ardente)
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