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A crônica “Inauguração da avenida” é entremeada pela palavra povo. Sobre esse vocáb...

Responda: A crônica “Inauguração da avenida” é entremeada pela palavra povo. Sobre esse vocábulo, leia as afirmativas.I Trata-se de uma generalização para representar todo brasileiro, atribuindo-...


1Q191336 | Português, Interpretação de Textos, Agente Administrativo, Polícia Rodoviária Federal PRF, FUNCAB

Texto associado.

Texto 1

Inauguração da Avenida

      [...]
      Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
      Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
      Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos.
Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
      Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
      É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
      E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
      A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
      [...]
      E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]

Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.

Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto

A crônica “Inauguração da avenida” é entremeada pela palavra povo. Sobre esse vocábulo, leia as afirmativas.

I Trata-se de uma generalização para representar todo brasileiro, atribuindo-lhe caráter de nacionalidade e referência identitária.

II. Nesse caso, o referente é a classe menos favorecida, que, na fala do cronista, encontra-se à margem das benesses sociais.

III. Refere-se à imagem plural da cidade, representando parte significativa da sociedade.

Está(ão) correta(s) somente a(s) afirmativa(s):

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💬 Comentários

Confira os comentários sobre esta questão.
David Castilho
Por David Castilho em 31/12/1969 21:00:00
Gabarito: a) A questão trata do uso da palavra 'povo' na crônica 'Inauguração da avenida'.

A afirmativa I diz que 'povo' é uma generalização para representar todo brasileiro, com caráter de nacionalidade e referência identitária. No entanto, isso não está correto no contexto da crônica, pois o termo não é usado para abranger toda a população brasileira, mas sim um grupo específico.

A afirmativa II aponta que 'povo' refere-se à classe menos favorecida, que está à margem das benesses sociais. Essa interpretação está correta, pois o cronista utiliza 'povo' para destacar a exclusão social e a desigualdade presente na inauguração da avenida.

A afirmativa III afirma que 'povo' representa a imagem plural da cidade, uma parte significativa da sociedade. Isso também está correto, pois o termo não se limita a uma única classe, mas simboliza um segmento expressivo da população urbana, especialmente os menos privilegiados.

Portanto, as afirmativas II e III estão corretas, enquanto a I está incorreta, justificando a escolha da alternativa a).

Segunda resolução: ao analisar novamente, percebe-se que a palavra 'povo' não generaliza todo brasileiro (descartando I), mas sim destaca um grupo social específico (classe menos favorecida) e representa uma parte significativa da sociedade (II e III). Isso confirma a resposta correta como alternativa a).
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