A expansão do português no Brasil, as variações
regionais com suas possíveis explicações e as
raízes das inovações da linguagem estão emergindo
por meio do trabalho de linguistas que estão
desenterrando as raízes do português brasileiro
ao examinar cartas pessoais e administrativas,
testamentos, relatos de viagens, processos
judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais
desde o século XVI, coletados em instituições
como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do
Estado de São Paulo. No acervo de documentos
que servem para estudos sobre o português paulista
está uma carta de 1807, escrita pelo soldado Manoel
Coelho, que teria seduzido a filha de um fazendeiro.
Quando soube, o pai da moça, enfurecido, forçou o
rapaz a se casar com ela. O soldado, porém, bateu
o pé: “Nem por bem, nem por mar!”, não se casaria.
Um linguista pesquisador estranhou a citação, já
que o fato se passava na Vila de São Paulo, mas
depois percebeu: “Ele quis dizer ‘nem por bem, nem
por mal!’. O soldado escrevia como falava. Não se
sabe se casou com a filha do fazendeiro, mas deixou
uma prova valiosa de como se falava no início do
século XIX.”
FIORAVANTI, C. Ora pois, uma língua bem brasileira.
Pesquisa Fapesp , n. 230, abr. 2015 (adaptado).
O fato relatado evidencia que fenômenos presentes na
fala podem aparecer em textos escritos. Além disso,
sugere que
✂️ a) os diferentes falares do português provêm de textos
escritos. ✂️ b) o tipo de escrita usado pelo soldado era
desprestigiado no século XIX. ✂️ c) os fenômenos de mudança da língua portuguesa
são historicamente previsíveis. ✂️ d) as formas variantes do português brasileiro atual já
figuravam no português antigo escrito. ✂️ e) as origens da norma-padrão do português brasileiro
podem ser observadas em textos antigos.