Canção No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas… Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto. Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento. E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim. MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa .
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene
manifesta uma concepção de lirismo fundada na
✂️ a) contradição entre a vontade da espera pelo ser
amado e o desejo de fuga. ✂️ b) expressão do desencanto diante da impossibilidade
da realização amorosa. ✂️ c) associação de imagens díspares indicativas de
esperança no amor futuro. ✂️ d) recusa à aceitação da impermanência do sentimento
pela pessoa amada. ✂️ e) consciência da inutilidade do amor em relação à
inevitabilidade da morte.