Cartas se caracterizam por serem textos efêmeros, inscritas no tempo de sua produção e
escritas, muitas vezes, no papel que se tem à mão. Por isso, frequentemente, salvo um
esforço dos próprios missivistas ou de terceiros, preocupados em preservá-las, facilmente
desaparecem, seja pelo corriqueiro de seu conteúdo, seja pela sua fragilidade material. Nem
sempre é assim, porém. Temos assistido, nestas duas décadas do século XXI, a um grande
interesse pelas chamadas écritures du moi (“escritas do eu”, na expressão de Georges
Gusdorf): nunca se estudaram tantas memórias, diários, cartas, quanto nesses últimos
tempos. Publicações de memórias, diários, cartas sempre houve. Estudos, no entanto, que os
enxergassem como objetos de pesquisa, e não como auxiliares para a interpretação da obra
de um escritor, como protagonistas, e não como coadjuvantes, eram raros.
Nesse sentido, engana-se quem abre o volume Cartas provincianas : correspondência
entre Gilberto Freyre e Manuel Bandeira , lançado pela Global Editora, e julga deparar-se
apenas com um livro de cartas. A organizadora preocupou-se em contextualizar cada uma das
68 cartas, em um trabalho cuidadoso e pormenorizado de reconstituição das condições de
produção de cada uma delas, um verdadeiro resgate.
TIN, E. Diálogos intermitentes. Pesquisa Fapesp , n. 259, set. 2017.
De acordo com o texto, o gênero carta tem assumido a função social de material de cunho
científico por
✂️ a) constituir-se em um registro pessoal do estilo de escrita de autores famosos. ✂️ b) ser fonte de informações sobre os interlocutores envolvidos na interação. ✂️ c) assumir uma materialidade resistente ao aspecto efêmero do tempo. ✂️ d) ser um registro de um momento histórico social mais amplo. ✂️ e) fazer parte do acervo literário do país.