No cemitério, a sociedade religiosa encarregada do
funeral, aterrorizada, apressou a cerimônia de tal forma que
a mãe de Herzog perdeu o momento em que o caixão do
filho começou a ser coberto pela terra. Quatro jornalistas
que estavam presos no DOI chegaram para assistir ao
sepultamento. Um se afastara, chorando. Dizia: Eles matam,
eles matam! Não pergunte nada. Não podemos dizer
nada. Eles matam mesmo. Falava-se baixo. Ouviram-se
dois curtos discursos. O primeiro, da atriz Ruth Escobar:
Até quando vamos suportar tanta violência? Até quando
vamos continuar enterrando nossos mortos em silêncio?
No segundo, Audálio Dantas recitou o Navio negreiro, de
Castro Alves: Senhor Deus dos desgraçados / Dizei-me
Vós, Senhor Deus / Se é mentira, se é verdade, / Tanto
horror perante os céus.
GASPARI, E. A ditadura encurralada. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
O acontecimento descrito no texto, ocorrido em meados
dos anos 1970, atesta a seguinte característica do regime
político-institucional vigente:
✂️ a) Incorporação da estética popular para justificar o ideal
de integração nacional. ✂️ b) Afirmação da estratégia psicossocial para favorecer
o objetivo de propaganda cívica. ✂️ c) Institucionalização de mecanismos repressivos para
eliminar os focos de resistência. ✂️ d) Adoção de cerimoniais públicos para controlar as
manifestações de grupos opositores. ✂️ e) Estatização de meios de comunicação para selecionar
a divulgação de atos governamentais.