Bondade fazia jus ao apelido. Não tinha pouso certo.
Morava em lugar algum, a não ser no coração de todos.
— Para que ter pouso certo? — dizia ele. — Homem
devia ser que nem passarinho, ter asas para voar. Já rodei.
Já vivi favela e mais favela, já vivi debaixo de pontes,
viadutos... Já vivi matos e cidades. Já vaguei, vaguei...
Muito tempo estou por aqui nesta favela. Aqui é grande
como uma cidade. Há tanto barraco para entrar, tanta gente
para se gostar!
O tempo ia passando, Bondade ficando ali. Comia em
casa de um, bebia em casa de outro. Era amigo comum
de dois ou mais inimigos. Não era traidor nem mediador
também. Quando chegava à casa de um, por mais que
indagassem, por mais que futricassem, Bondade não abria
a boca. Desconversava, conversava, e a intriga morria logo.
Vivia intensamente cada lugar em que chegava. Cada casa,
cada pessoa, cada miséria e grandeza a seu tempo certo,
no seu exato momento.
EVARISTO, C. Becos da memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2018. No texto, o apelido dado ao personagem incorpora
valores humanos relativos à sua
✂️ a) generosidade em relação às demandas da
comunidade onde vive. ✂️ b) capacidade de desprendimento material e
benevolência afetiva. ✂️ c) experiência em ignorar as provocações de seus
inimigos. ✂️ d) coragem em assumir uma vida de solidão e privações. ✂️ e) incapacidade de expressar emoções e sentimentos.