Duas castas de considerações fez de si para consigo
o cauto Conselheiro. Primeiramente foi saltar-lhe ao
nariz a evidência de que ministro não visita empregado
público, ainda que in extremis , mesmo a uma braça, ou
duas, acima do chapéu do amanuense mais bisonho.
Também não visita escritor enfermo por ser escritor, e
por estar enfermo. Seriam trabalhos, ambos, a que não
se daria um ministro, nem sempre ocupado das cousas,
altas ou baixas, do Estado. O tempo ministerial não se vai perdulariamente,
não se faz em farinhas. Os titulares esquivam-se até
a suspirar, que os suspiros implicam o desperdício de
minutos se o suspiro é de minutos, além de permitirem
ilações perigosas sobre a estabilidade do ministro,
quando não do próprio gabinete.
A segunda ponderação remeteu-o à certeza de que
terminantemente chegavam ao cabo seus dias; e de que as
esperanças eram aéreas, atado agora à cama até que o
encerrassem na urna, como um voto eleitoral frio.
MARANHÃO, H. Memorial do fim: a morte de Machado de Assis. São Paulo: Marco Zero, 1991.
O texto relata o momento em que, no leito de morte,
Machado de Assis recebe a visita do Barão do Rio
Branco, ministro de Estado. Criando a cena, o narrador
obtém expressividade ao
✂️ a) representar com fidelidade os fatos históricos. ✂️ b) caracterizar a situação com profundidade dramática. ✂️ c) explorar a sensibilidade dos personagens envolvidos. ✂️ d) assumir a perspectiva irônica e o estilo narrativo do
personagem. ✂️ e) recorrer a metáforas sutis e comparações de
sentido filosófico.