Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus
livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna.
O que não admira, nem provavelmente consternará, é se
este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal,
nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez?
Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa,
na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um
Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti
algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de
finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da
melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse
conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas
aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola
não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado
da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as
duas colunas máximas da opinião.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 ago. 2015.
No fragmento transcrito da dedicatória “Ao leitor”, em
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor serve-se da
figura do narrador-defunto para
✂️ a) desqualificar o gênero romance, forma literária à qual
Machado de Assis pouco se dedicou. ✂️ b) ressaltar a inverossimilhança dos fatos narrados,
confrontados com a realidade da burguesia carioca
do século XIX. ✂️ c) criticar a sociedade burguesa brasileira da época,
valendo-se do uso da terceira pessoa e do ponto de
vista distanciado. ✂️ d) sobrepor a “tinta da melancolia” ao aspecto humorístico,
de modo a valorizar o tom sóbrio e a temática realista
típicos do romance burguês brasileiro. ✂️ e) fazer intromissões na narrativa, introduzindo pausas
no relato durante as quais estabelece com o leitor um
diálogo de tom sarcástico e provocativo.