Para começar, ele nos olha na cara. Não é como
a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com
superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho.
Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu
desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer.
A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo
que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você
faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo
dele, senão ele não aceita. Às vezes, quando a gente
erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei
a usar o computador na redação do jornal e volta e meia
errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.”
“O burro errou!”. Outra coisa: ele é mais inteligente que você.
Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente
quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido,
nas suas relações com o computador, que você jamais
aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer.
A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca
usaria, mas não tinha o mesmo ar de quem só aguentava
os humanos por falta de coisa melhor, no momento.
E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior
impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.
VERISSIMO, L. F. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990.
Ao descrever sua relação com a máquina de escrever
e o computador, o cronista adota uma perspectiva que
✂️ a) põe em evidência a disparidade entre tecnologias. ✂️ b) critica a quantidade de recursos dos dispositivos. ✂️ c) defende a utilização de equipamentos obsoletos. ✂️ d) sobrepõe a inteligência humana à da máquina. ✂️ e) refuta o progresso técnico da comunicação.