Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar. Joaquim, meu primo, continuava com
o queixo suspenso, batendo com o garfo nos lábios, esperando a resposta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta,
“o que é lésbica?”. Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda
a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas. Previ a cena: vó, a senhora é
lésbica? Porque a Joana é. A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei os
olhos e contraí o peito, esperando o tiro. [...]
[...] Pensei na naturalidade com que Taís e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de
contar isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam, fechei os olhos e vi a boca da
minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber
tudo, mas não consegui perguntar.
POLESSO, N. B. Vó, a senhora é lésbica? Amora . Porto Alegre: Não Editora, 2015 (fragmento).
A situação narrada revela uma tensão fundamentada na perspectiva do
✂️ a) conflito com os interesses de poder. ✂️ b) silêncio em nome do equilíbrio familiar. ✂️ c) medo instaurado pelas ameaças de punição. ✂️ d) choque imposto pela distância entre as gerações. ✂️ e) apego aos protocolos de conduta segundo os gêneros.