Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança
contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que
sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas
d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de
vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu.
Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra
em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera
negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim
que matara. Fora o lazareto. Omolu só queria com o alastrim
marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava.
Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham
dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco
da vacina.
(Jorge Amado. Capitães da areia, 2008.)
O texto literário, publicado em 1937, fala da epidemia de
bexiga (varíola) e
✂️ a) reconhece a circulação global das doenças bacterianas
e a facilidade de combatê-la em meios sociais pobres. ✂️ b) identifica a origem africana da varíola e a baixa resistência da população afrodescendente de Salvador à doença. ✂️ c) combina percepções médicas, religiosas e sociais sobre
a epidemia de varíola na cidade de Salvador. ✂️ d) associa cientificidade, preconceito social e política de
confinamento no combate à epidemia de varíola em Salvador. ✂️ e) despreza a dimensão mística e os saberes populares
acerca das doenças e seus métodos de prevenção.