A poesia de Manuel Bandeira, marcada pela simplicidade no modo de dizer, alcança grau
considerável de lirismo e de subjetividade ao tratar de cenas do cotidiano, como pode ser notado
no exemplo que segue:
Poema de Finados Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira .20 ed. Rio de Janeiro, NovaFronteira, 1993. p. 144-5).
Ao observar a relação entre o conteúdo do Poema de Finados e seus aspectos formais, pode-se
afirmar que: ✂️ a) a organização métrica irregular dos versos que o compõem encontra ressonância no estado
de espírito que o sujeito lírico vivencia. ✂️ b) ao se apresentar como uma espécie de diálogo com seu leitor, o texto opta pelo registro em
uma linguagem cuja característica predominante é a de sua informalidade. ✂️ c) a presença de vocábulos que se vinculam ao campo de sentidos evocado pelo título contribui
para o efeito de unidade do texto. ✂️ d) a expectativa construída a respeito da memória do pai, após sua morte, permanece ao longo
das três estrofes do poema. ✂️ e) a estrutura de diálogo na qual o texto se apresenta restringe suas escolhas verbais à
primeira e à segunda pessoas.