Há dias conheci uma mulher do interior da Zambézia. Tem cinco filhos, já crescidos. O primeiro,
um mulato esbelto, é dos portugueses que a violaram durante a guerra colonial. O segundo,
um preto, elegante e forte como um guerreiro, é fruto de outra violação dos guerrilheiros de
libertação da mesma guerra colonial. O terceiro, outro mulato, mimoso como um gato, é dos
comandos rodesianos brancos, que arrasaram esta terra para aniquilar as bases dos guerrilheiros
do Zimbabwe. O quarto é dos rebeldes que fizeram a guerra civil no interior do país. A primeira
e a segunda vez foi violada, mas à terceira e à quarta entregou-se de livre vontade, porque se
sentia especializada em violação sexual. O quinto é de um homem com quem se deitou por
amor pela primeira vez.
Essa mulher carregou a história de todas as guerras do país num só ventre. (cap. 37)
O sentido de “humanidade”, criticado no texto de Ailton Krenak, é chave para a compreensão
de um contexto de extrema violência, como o narrado no fragmento.
Nesse contexto de colonização, o corpo feminino está associado à imagem de:
✂️ a) luta a ser realizada ✂️ b) território a ser dominado ✂️ c) fronteira a ser ultrapassada ✂️ d) sentimento a ser conquistado