Texto associado. Diminutivos
Sempre pensei que ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo, essa nossa mania de reduzir tudo à mínima dimensão, seja um cafezinho, um cineminha ou uma vidinha. "Operação", por exemplo. É uma palavra assustadora. Pior do que "intervenção cirúrgica", porque promete uma intervenção muito mais radical nos intestinos. Já uma operaçãozinha é uma mera formalidade. Anestesia local e duas aspirinas depois. Uma coisa tão banal que quase dispensa a presença do paciente. No Brasil, usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida.
— Mais um feijãozinho?
— Um pouquinho.
— E uma farofinha?
— Ao lado do arrozinho?
— Isso.
O diminutivo é também uma forma de disfarçar o nosso entusiasmo pelas grandes porções. E tem um efeito psicológico inegável.
— E agora, um docinho.
E surge um tacho de ambrosia que é um porta-aviões.
VERISSIMO, L. F. Comédia da vida privada :101 crônicas escolhidas. Porto Alegre: LP&M, 1994 (adaptado).
O registro de palavras do texto demarca a identidade do povo sertanejo. Nesse contexto,
as variações linguísticas utilizadas são frutos de fatores sociais que podem desencadear
preconceito, como é evidenciado nos versos:
✂️ a) “Já eu sou bem deferente,/ Meu verso é como a simente / Que nasce inriba do chão”. ✂️ b) “Amigo, não tenha quêxa,/ Veja que eu tenho razão/ Em lhe dizê que não mêxa / Nas coisa
do meu sertão”. ✂️ c) “Não tenho estudo nem arte,/ A minha rima faz parte/ Das obra da criação”. ✂️ d) “Por favô, não mêxa aqui,/ Que eu também não mêxo aí,/ Cante lá que eu canto cá ”.