A história de vida é uma daquelas noções do senso comum que
entram de contrabando no universo acadêmico; primeiro, sem
tambor nem trompete, pelos etnólogos; depois, mais
recentemente, e não sem estrondo, entre os sociólogos. Falar de
história de vida é pressupor pelo menos, e isto não é pouco, que a
vida é uma história e uma vida é inseparavelmente o conjunto de
acontecimentos de uma existência individual concebida como uma
história e o relato desta história. O mundo social, que tende a
identificar a normalidade com a identidade, entendida como
constância de si mesmo de um ser responsável, ou seja, previsível
ou, no mínimo, inteligível, à maneira de uma história bem
construída, dispõe de todos os tipos de instituições de totalização
e de unificação do eu.
Os acontecimentos biográficos são definidos como muitos
posicionamentos e deslocamentos no espaço social, ou seja, mais
precisamente, nos diferentes estados sucessivos da estrutura de
distribuição das diferentes espécies de capital envolvidas em dado
campo
Adaptado de: BOURDIEU , Pierre. L’illusion biographique. In: Actes de la
recherche en sciences sociales. Vol. 62-63, 1986. Com base na leitura do trecho, é correto afirmar que, segundo o
autor, o sociólogo, ao estudar biografias, deve
✂️ a) buscar a coerência entre os eventos pessoais, construindo uma
ideia de trajetória de progresso linear contínuo. ✂️ b) perceber que a trajetória possui um sentido intrínseco,
moldado naturalmente pela vivência individual. ✂️ c) focar na construção da sucessão cronológica dos
acontecimentos da vida. ✂️ d) selecionar os eventos mais significativos que representam a
totalidade da vida. ✂️ e) tornar a trajetória inteligível por meio da análise da estrutura
social.