No Brasil, os principais adeptos do liberalismo foram
homens cujos interesses se relacionavam com a economia de exportação e importação. Muitos eram proprietários de grandes extensões de terra e elevado
número de escravos e ansiavam por manter as estruturas tradicionais de produção ao mesmo tempo que
se libertavam do jugo de Portugal e das restrições que
este impunha ao livre-comércio. [...].
No decorrer do século XIX, o discurso e a prática liberais
revelaram constantemente essa tensão.
(Emília Viotti da Costa. Da monarquia à república: momentos decisivos )
A “tensão” indicada por Emília Viotti é uma referência ao
fato de que
✂️ a) os liberais brasileiros se opunham à Coroa portuguesa, na medida em que esta se identificava com
os interesses da elite escravagista, sendo, portanto,
um movimento de natureza abolicionista, em meio à
hegemonia da aristocracia rural. ✂️ b) as estruturas sociais e econômicas que as elites brasileiras desejavam conservar significavam a sobrevivência de um sistema de clientela e patronagem e
de valores que representavam a essência do que os
liberais europeus pretendiam destruir. ✂️ c) a condição colonial da economia brasileira propiciou
a formação de um liberalismo peculiar, que teve suas
origens na luta contra as elites portuguesas, contra
seu caráter monarquista e colonialista, desejando a
República como forma de governo. ✂️ d) a revolução industrial e o desenvolvimento do
capitalismo na Europa eram a força motriz para os
movimentos de revolta colonial – e não os ideais
da Revolução Francesa, conforme apregoado pela
historiografia brasileira tradicional. ✂️ e) o status de “civilizado” conferido pela propaganda da
ideologia liberal na Europa ganhou ares de intelectualidade e avanço cultural, o que contrastava com a
manutenção dos valores da monarquia portuguesa,
por parte da elite brasileira.