O lixo de Barrio e a poesia violenta de Paiva foram assimilados e diluídos pelos rapazes patrióticos e humanitários, ansiosos por
proclamarem que a contestação não deve assustar ninguém.
(BITTENCOURT, Francisco. Arte-Dinamite. Rio de Janeiro: Tamanduá, 2017)
O texto do crítico de arte, poeta e escritor Francisco Bittencourt revela uma característica da indústria cultural, que a filósofa
Marilena Chauí descreve em seu livro Convite à Filosofia (Ática: São Paulo, 2000). Dentre os trechos abaixo, melhor expressa a
crítica de Bittencourt:
✂️ a) [...] Em vez de garantir o mesmo direito de todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão
social entre elite “culta” e massa “inculta”. ✂️ b) A indústria cultural cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais, cada um escolhendo livremente o
que deseja, como o consumidor num supermercado. ✂️ c) Em lugar de difundir e divulgar a Cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes
e dos conhecimentos. Massificar é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. ✂️ d) [...] inventa uma figura chamada “espectador médio”, “ouvinte médio” e “leitor médio”, aos quais são atribuídas certas capacidades mentais “médias”, certos conhecimentos “médios” e certos gostos “médios”. ✂️ e) A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não
pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem.