“Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal
venha a adquirir os direitos dos quais jamais poderiam ter
sido privados, a não ser pela mão da tirania. Os franceses
já descobriram que o escuro da pele não é motivo para que
um ser humano seja abandonado, irreparavelmente, aos
caprichos de um torturador. É possível que algum dia se reconheça
que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a
terminação dos os sacrum são motivos igualmente insuficientes
para se abandonar um ser sensível ao mesmo destino.
O que mais deveria traçar a linha insuperável? A faculdade
da razão, ou, talvez, a capacidade de falar? Mas para lá
de toda comparação possível, um cavalo ou um cão adulto
são muito mais racionais, além de bem mais sociáveis, do
que um bebê de um dia, uma semana, ou até mesmo um
mês. Imaginemos, porém, que as coisas não fossem assim;
que importância teria tal fato? A questão não é saber se são
capazes de raciocinar, ou se conseguem falar, mas, sim, se
são passíveis de sofrimento."
(J. Bentham. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação.
São Paulo: Abril Cultural, 1979. Adaptado)
Nesse texto, Jeremy Bentham, filósofo britânico do século
XVIII, chama a atenção para
✂️ a) a faculdade da razão e a capacidade da fala como características
que justificam o privilégio da espécie humana
sobre as demais. ✂️ b) o fato de que o número de pernas, a vilosidade da pele e
outras características físicas são essenciais para determinar
a diferença entre os animais. ✂️ c) a capacidade de sofrimento como o motivo pelo qual os
homens são mais infelizes do que os animais. ✂️ d) a capacidade de sofrimento como a característica vital que
confere, a qualquer ser, o direito à igual consideração. ✂️ e) a injustiça representada pelo fato de que alguns animais
são de fato mais racionais e sociáveis do que um bebê
recém-nascido.