Leia a crônica de Clarice Lispector, a seguir para responder a questão:
ESCREVER AS ENTRELINHAS
Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: A não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente .
(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.)
Está CORRETO afirmar sobre algumas expressões que compõem essa crônica de Clarice Lispector:
a) “Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca.”
(Essa citação comprova a função apelativa do texto.)
b) “Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu.”
(Nesse tipo de texto, o conteúdo, ou seja, “a entrelinha”, é mais importante do que a expressividade da linguagem.)
c) “... poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora.”
(Esse trecho comprova a escrita arcaica de Clarice Lispector, por usar a “ênclise”, que a Gramática moderna reprova e é de pouco uso no Brasil.)
d) A não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a.”
(Isso quer dizer que a “palavra” foi incorporada pela “não-palavra”.)
e) “O que salva então é escrever distraidamente .”
(O adjetivo distraidamente indica que escrever bem é um ato espontâneo.)