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Responda: Assinale a alternativa cuja sequência verbaldestacada constitui um exemplo de tempocomposto.


1Q114238 | Português, Analista de Projetos Agronomia, BRDE, AOCP

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Condenados à tradição

O que fizeram com a poesia brasileira

Iumna Maria Simon

Por um desses quiproquós da vida cultural, a tradicionalização, ou a referência à tradição, tornou-se um tema dos mais presentes na poesia contemporânea brasileira, quer dizer, a que vem sendo escrita desde meados dos anos 80. Pode parecer um paradoxo que a poesia desse período, a mesma que tem continuidade com ciclos anteriores de vanguardismo, sobretudo a poesia concreta, e se seguiu a manifestações antiformalistas de irreverência e espontaneísmo, como a poesia marginal, tenha passado a fazer um uso relutantemente crítico, ou acrítico, da tradição. Nesse momento de esgotamento do moderno e superação das vanguardas, instaura-se o consenso de que é possível recolher as forças em decomposição da modernidade numa espécie de apoteose pluralista. É uma noção conciliatória de tradição que, em lugar da invenção de formas e das intervenções radicais, valoriza a convencionalização a ponto de até incentivar a prática, mesmo que metalinguística, de formas fixas e exercícios regrados. Ainda assim, não se trata de um tradicionalismo conservador ou "passadista", para lembrar uma expressão do modernismo dos anos 20. O que se busca na tradição não é nem o passado como experiência, nem a superação crítica do seu legado. Afinal, não somos mais como T. S. Eliot, que acreditava no efeito do passado sobre o presente e, por prazer de inventar, queria mudar o passado a partir da atualidade viva do sentimento moderno. Na sua conhecidíssima definição da tarefa do poeta moderno, formulada no ensaio "Tradição e talento individual", tradição não é herança. Ao contrário, é a conquista de um trabalho persistente e coletivo de autoconhecimento, capaz de discernir a presença do passado na ordem do presente, o que, segundo Eliot, define a autoconsciência do que é contemporâneo. Nessa visada, o passado é continuamente refeito pelo novo, recriado pela contribuição do poeta moderno consciente de seus processos artísticos e de seu lugar no tempo. Tal percepção de que passado e presente são simultâneos e inter-relacionados não ocorre na ideia inespecífica de tradição que tratarei aqui. O passado, para o poeta contemporâneo, não é uma projeção de nossas expectativas, ou aquilo que reconfigura o presente. Ficou reduzido, simplesmente, à condição de materiais disponíveis, a um conjunto de técnicas, procedimentos, temas, ângulos, mitologias, que podem ser repetidos, copiados e desdobrados, num presente indefinido, para durar enquanto der, se der. Na cena contemporânea, a tradição já não é o que permite ao passado vigorar e permanecer ativo, confrontando-se com o presente e dando uma forma conflitante e sempre inacabada ao que somos. Não implica, tampouco, autoconsciência crítica ou consciência histórica, nem a necessidade de identificar se existe uma tendência dominante ou, o que seria incontornável para uma sociedade como a brasileira, se as circunstâncias da periferia pós-colonial alteram as práticas literárias, e como. Não estou afirmando que os poetas atuais são tradicionalistas, ou que se voltaram todos para o passado, pois não há no retorno deles à tradição traço de classicismo ou revivalismo. Eles recombinam formas, amparados por modelos anteriores, principalmente os modernos. A tradição se tornou um arquivo atemporal, ao qual recorre a produção poética para continuar proliferando em estado de indiferença em relação à atualidade e ao que fervilha dentro dela. Até onde vejo, as formas poéticas deixaram de ser valores que cobram adesão à experiência histórica e ao significado que carregam. Os velhos conservadorismos culturais apodreceram para dar lugar, quem sabe, a configurações novas e ainda não identificáveis. Mesmo que não exista mais o "antigo", o esgotado, o entulho conservador, que sustentavam o tradicionalismo, tradição é o que se cultua por todos os lados. Na literatura brasileira, que sempre sofreu de extrema carência de renovação e variados complexos de inferioridade e provincianismo, em decorrência da vida longa e recessiva, maior do que se esperaria, de modas, escolas e antiqualhas de todo tipo, essa retradicionalização desculpabilizada e complacente tem inegável charme liberador.

Revista Piauí, edição 61, 2011.

Assinale a alternativa cuja sequência verbal

destacada constitui um exemplo de tempo

composto.

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💬 Comentários

Confira os comentários sobre esta questão.
Ingrid Nunes
Por Ingrid Nunes em 31/12/1969 21:00:00
Gabarito: e)

Vamos entender o que é tempo composto: ele é formado por um verbo auxiliar + verbo principal no particípio (como "tenho feito", "estava falando", "tinha passado").

Analisando as opções:

a) "estou afirmando" – é um tempo composto? Não exatamente. É o presente do indicativo do verbo "estar" + gerúndio do verbo "afirmar". Isso é uma forma perifrástica, mas não um tempo composto tradicional.

b) "continuar proliferando" – verbo "continuar" + gerúndio "proliferando". Também é uma locução verbal com gerúndio, não tempo composto.

c) "deixaram de ser" – verbo no pretérito perfeito "deixaram" + infinitivo "ser". Não é tempo composto.

d) "pode parecer" – verbo no presente do indicativo "pode" + infinitivo "parecer". Também não é tempo composto.

e) "tenha passado a fazer" – verbo "ter" no presente do subjuntivo "tenha" + particípio "passado" + infinitivo "fazer". Aqui temos um verbo auxiliar ("tenha") + particípio ("passado"), formando o tempo composto do verbo "passar" no subjuntivo perfeito. Portanto, é um exemplo de tempo composto.

Por isso, a alternativa correta é a letra e).
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